A nova ofensiva do presidente Donald Trump sobre os mercados internacionais chegou ao setor cultural. Em declaração recente, o republicano afirmou que pretende aplicar tarifas de 100% a filmes produzidos fora dos Estados Unidos — uma medida que levanta alertas não só em Hollywood, mas em toda a indústria audiovisual global, especialmente na América Latina.
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“Queremos que os filmes sejam feitos nos Estados Unidos novamente!” declarou Trump, sem oferecer detalhes sobre como a iniciativa será implementada.
A fala, no entanto, já foi suficiente para gerar apreensão entre produtores e instituições ligadas ao cinema latino-americano.

Imagem: Reprodução/Internet
Repercussão
“Há questões processuais que não são claras porque, por exemplo, o que sabemos é que as tarifas se aplicam apenas a bens e não a serviços. E, na realidade, a produção audiovisual é um serviço” explicou Axel Kuschevatzky, renomado produtor argentino, em entrevista à AFP.
Ele pondera que ainda é cedo para medir o real impacto da proposta.
“Estamos em um estágio anterior”, disse. “Primeiro é preciso entender se as medidas vão adiante e qual seria o alcance delas”
Kuschevatzky esteve envolvido em produções argentinas de destaque internacional, como O Segredo dos Seus Olhos (vencedor do Oscar) e Relatos Selvagens.

Imagem: Divulgação/O Segredo dos Seus Olhos
Cinema brasileiro
Este ano, o Brasil também se destacou internacionalmente com Ainda Estou Aqui, vencedor da categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar. O longa sobre a ditadura militar brasileira conquistou o público e a crítica, chegando até às salas norte-americanas — justamente o tipo de circulação que pode ser ameaçada com a nova política.
Marianna Souza, presidente da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro), também demonstra preocupação com a falta de clareza sobre os detalhes da possível taxação.
“Não sabemos se será um imposto aplicado apenas aos filmes exibidos em salas de cinema ou se também incidirá sobre produções exibidas em plataformas de streaming”, declarou.

Imagem: Ainda Estou Aqui | Foto: Alile Dara Onawale
Serviços de streaming
O professor Gustavo Suárez, da Universidade do Valle, na Colômbia, destaca o quanto os serviços de streaming têm impulsionado o setor audiovisual latino.
“Netflix, Amazon, HBO e todas essas plataformas estão cada vez mais produzindo filmes e séries na Colômbia porque é mais barato do que fazê-los nos Estados Unidos. Haverá, sim, um impacto”, afirmou à AFP.
Segundo ele, entre “60% e 70%” das filmagens realizadas no país são coordenadas por empresas internacionais. Esse cenário é ainda mais perceptível em países menores, como a Guatemala, onde a presença de diretores americanos transforma diretamente o mercado de trabalho local.
No México, país com uma das maiores produções cinematográficas da região, a resposta ainda é de cautela. Nenhum posicionamento oficial foi divulgado até o momento, seja por parte da câmara da indústria, a Canacine, ou do Instituto Mexicano de Cinematografia (IMCINE).
“Ainda é muito cedo para comentar” declarou uma fonte da indústria à AFP.
A proposta de Trump foi encaminhada ao Departamento do Comércio, que deve avaliar como aplicá-la.
“Estamos trabalhando nisso”, confirmou o secretário Howard Lutnick.
A reação do mercado foi imediata: ações de gigantes como Netflix, Disney e Paramount registraram forte queda nas bolsas.