O debate sobre a proteção de crianças e adolescentes no ambiente digital ganhou novo fôlego após o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciar, neste domingo (10), que irá pautar, ainda nesta semana, projetos relacionados ao tema. A declaração veio na esteira da repercussão do vídeo publicado pelo youtuber Felca, que denuncia a suposta exploração de menores por parte do influenciador paraibano Hytalo Santos.
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O vídeo, com quase 50 minutos de duração e não monetizado, foi ao ar na última quarta-feira (6) e já ultrapassa 26 milhões de visualizações no YouTube. Nele, Felca expõe casos que, segundo ele, configuram “adultização” — termo usado para descrever a exposição de crianças e adolescentes a contextos e comportamentos sexualizados. Entre os exemplos citados, está o uso da imagem da adolescente Kamylla Santos, 17 anos, em conteúdos de cunho sensual.
A seguir, o vídeo sobre o tema, publicado pelo influenciador:
Após a repercussão, o perfil de Hytalo Santos no Instagram foi desativado na sexta-feira (8). Uma conta de Kamylla Santos, que também produz conteúdos ao lado do influenciador, igualmente saiu do ar. O Ministério Público da Paraíba (MPPB) investiga o caso desde 2024, com dois promotores — um de Bayeux e outro de João Pessoa — à frente do inquérito, que tramita sob sigilo. O órgão afirma que a investigação é anterior à fala de Felca e não confirmou se a retirada dos perfis está ligada a pedidos judiciais.
Em nota, o MPPB informou que apura se houve violação ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante proteção integral e proíbe qualquer forma de exploração, violência ou constrangimento de menores.
“O vídeo do Felca sobre a adultização das crianças chocou e mobilizou milhões de brasileiros. Esse é um tema urgente, que toca no coração da nossa sociedade. Na Câmara, há uma série de projetos importantes sobre o assunto. Nesta semana, vamos pautar e enfrentar essa discussão, afirmou Hugo Motta em publicação nas redes sociais”.

Quem é Felca
Felipe Bressanim Pereira, 27 anos, mais conhecido como Felca, é natural de Londrina (PR), mas atualmente vive em São Paulo. Youtuber e humorista, ele construiu sua base de fãs com vídeos de reacts — formato no qual comenta e reage a outros conteúdos — e produções humorísticas. Criou seu canal no YouTube em julho de 2017, que hoje soma mais de 5,23 milhões de inscritos, além de 13,7 milhões de seguidores no Instagram.
Felca já se destacou em pautas de repercussão, como suas análises das audiências da CPI das Bets, e viralizou em 2023 ao alcançar 1 milhão de seguidores no TikTok em apenas quatro dias, comentando sobre as chamadas “lives NPC”.
No vídeo em que denuncia Hytalo Santos, Felca afirmou que seguiu, em seu perfil pessoal, todos os citados no conteúdo como parte do processo de apuração. Ele relatou que, por isso, foi alvo de difamações nas redes, acusado de “curtir” publicações de crianças e adolescentes. Segundo o youtuber, mais de 200 pessoas foram processadas por ele em razão das acusações.
“É a primeira vez que processo acusações contra mim na internet. Fiz isso por dois motivos: primeiro, porque conheço pessoalmente vítimas de abuso sexual e tenho completo asco por esse crime. Segundo, porque quando a palavra pedofilia é vulgarizada, o único que ganha é o próprio pedófilo“, declarou no vídeo.
Felca anunciou que todo valor arrecadado nos processos será doado a instituições de caridade. Ele também propôs que réus que desejem encerrar a ação façam uma doação de R$ 250 às instituições citadas e publiquem um pedido de desculpas nas redes sociais.
Projetos de lei em debate
Entre as propostas que devem entrar na pauta da Câmara está o projeto já aprovado pelo Senado que estabelece o “dever de cuidado” das plataformas digitais. O texto prevê que empresas de tecnologia adotem mecanismos para prevenir danos a usuários menores de idade e sejam responsabilizadas em casos de omissão.
O projeto também determina a retirada imediata — sem necessidade de ordem judicial — de conteúdos que envolvam exploração e abuso sexual infantil, além de exigir verificação de idade para impedir o acesso de menores a material pornográfico.
Outras medidas incluem a proibição da venda de “caixas de recompensa” (loot boxes) em jogos eletrônicos e restrições à publicidade voltada para crianças.
Para entrar em vigor, a proposta precisa ser aprovada pelos deputados e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Repercussão e desafios
O caso reacendeu o debate sobre o papel das redes sociais na proteção de menores. Especialistas alertam que a exposição precoce de adolescentes a situações sexualizadas pode gerar impactos psicológicos duradouros e normalizar condutas nocivas.
A forte mobilização popular e a visibilidade gerada pelo vídeo de Felca colocam pressão sobre o Congresso para acelerar medidas que, até então, avançavam lentamente. O consenso entre autoridades, juristas e sociedade civil é que proteger crianças no ambiente digital não pode mais ser tratado como pauta secundária — e sim como prioridade legislativa e social.
Guilherme Boulos: (PSOL-SP), deputado Federal:
Erika Hilton (PSOL-SP), deputada Federal:
Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara: