Coronel confirma ao STF que repassou carta que pressionava Exército por um golpe

Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (28), o coronel Fabrício Moreira de Bastos, acusado de fazer parte do “núcleo 3” da trama golpista conhecida como Operação Contragolpe, confirmou que recebeu e repassou a chamada “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa”, documento que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), visava estimular o apoio do alto comando militar à tentativa de golpe de Estado após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

LEIA TAMBÉM: Sou uma exilada e perseguida política no Brasil, diz Carla Zambelli, foragida na Itália

Bastos relatou que o envio foi ordenado por seu superior no Centro de Inteligência do Exército (coronel De La Vega), que solicitou a cópia para “dissuadir os autores da carta de publicá-la ou recrutar mais assinaturas”. Ele explicou que pediu o documento ao coronel Correa Neto, membro do chamado grupo “turma de 1997” ou “kids pretos”, e em seguida o encaminhou ao superior imediato.

Durante o interrogatório, Bastos classificou a carta como “muito mal escrita”, descrevendo-a como formada por frases soltas e sem coerência, apenas um “desabafo” sem capacidade real de influenciar os 16 comandantes do alto comando do Exército. Chamou o ato de uma “inocência quase franciscana”.

A PGR aponta os tenente-coronéis Ronald Ferreira de Araújo Júnior e Sérgio Cavaliere como coautores da carta, que teria sido posteriormente vazada para a mídia por meio do jornalista Paulo Figueiredo, numa campanha destinada a ampliar pressão institucional e mobilizar apoio interno ao plano golpista.

Segundo Bastos, o Exército instaurou sindicância interna e puniu os militares envolvidos na assinatura ou divulgação da carta. Além disso, ele negou que o documento tenha sido discutido ou revisado durante a reunião dos “kids pretos” em 28 de novembro de 2022, defendendo que o encontro entre oficiais foi apenas uma confraternização sem caráter conspiratório.

Esses depoimentos fazem parte do número 3 do inquérito da Operação Contragolpe, que investiga a participação de militares nas tentativas de boicotar a transição democrática com planejamentos que incluíam assassinatos e sequestros de autoridades como Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.

Autor

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *