Israel, Gaza e o “novo amanhecer”: como acordo de Trump tenta pôr fim a décadas de terror

Em um discurso histórico no Parlamento de Israel nesta segunda-feira (13), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que este é o fim de uma era de mortes e terror e o início de um novo amanhecer para o Oriente Médio. A fala ocorreu horas após o Hamas libertar os 20 últimos reféns israelenses mantidos em Gaza, concretizando o acordo de cessar-fogo mediado por Washington.

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Esse pesadelo longo e doloroso para israelenses e palestinos está terminado, afirmou Trump, sob aplausos de pé de parlamentares israelenses. A libertação marca o encerramento de uma das crises mais violentas e prolongadas entre Israel e o grupo islâmico.

O pacto resultou também na libertação de quase 2 mil prisioneiros palestinos, incluindo 250 condenados à prisão perpétua, em troca dos reféns israelenses. Segundo o Hamas, os restos mortais de outros 28 sequestrados ainda serão entregues a Israel — quatro deles já nesta segunda.

Trump exaltado e apelo pela paz

Ovacionado diversas vezes durante o pronunciamento, Trump destacou que o momento representa um triunfo para Israel e para o mundo.

“Contra todas as probabilidades, fizemos o impossível e trouxemos nossos reféns de volta para casa. (…) Os Estados Unidos se unem a vocês nesses dois votos eternos — nunca esquecer e nunca mais repetir”, declarou o presidente norte-americano.

Ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Trump defendeu que Israel já alcançou pela força tudo o que podia, e que agora é hora de traduzir as vitórias militares em paz e prosperidade.

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assina junto com outros líderes mundiais acordo de cessar-fogo em Gaza durante cúpula no Egito em 13 de outubro de 2025 - Foto: REUTERS/Suzanne Plunkett/Pool
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assina junto com outros líderes mundiais acordo de cessar-fogo em Gaza durante cúpula no Egito em 13 de outubro de 2025 – Foto: REUTERS/Suzanne Plunkett/Pool

Netanyahu, que discursou antes de Trump, também se comprometeu com o caminho da reconciliação.

“Mostramos que a paz não é apenas um sonho, é uma realidade que podemos construir dia após dia”, disse o premiê israelense.

Trump reforçou:

“Agora deve estar claro para todos que décadas fomentando o terrorismo, o extremismo e o antissemitismo não deram certo. (…) Do Irã a Gaza, esses ódios amargos só trouxeram miséria e fracasso.”

O futuro da Faixa de Gaza

Um dos pontos mais destacados do discurso foi a reconstrução da Faixa de Gaza. Trump afirmou que pretende ser um parceiro direto na recuperação do território devastado pela guerra e anunciou a criação de uma equipe internacional de governança supervisionada pelos EUA.

“Esta é a chance dos palestinos abandonarem de uma vez por todas o caminho da violência”, disse.

Segundo o presidente, o objetivo é restaurar a estabilidade, a segurança, a dignidade e o desenvolvimento econômico, permitindo que “as crianças de Gaza finalmente tenham a vida que merecem após décadas de horror”.

Ovacionado, mas com protestos

Durante o discurso, Trump foi interrompido diversas vezes por salvas de palmas dos parlamentares israelenses. Netanyahu também recebeu aplausos, embora tenha sido vaiado em alguns momentos, reflexo das divisões políticas internas.

Em um episódio isolado, um deputado de esquerda interrompeu o discurso de Trump gritando Reconheçam a Palestina!. O parlamentar foi rapidamente retirado do plenário.

Trump também fez questão de elogiar o chefe das Forças Armadas de Israel, Eyal Zamir, presente à sessão, destacando seu papel nas negociações e operações de resgate dos reféns.

Aceno ao Irã e promessa de diálogo

Em um tom mais conciliador do que o habitual, Trump surpreendeu ao fazer um aceno diplomático ao Irã, país considerado o maior inimigo de Israel.

O presidente relembrou o ataque dos EUA a instalações nucleares iranianas em junho, mas afirmou estar aberto à cooperação.

“Mesmo para o Irã, cuja liderança causou tanta morte no Oriente Médio, a mão da amizade e da cooperação está sempre estendida”, declarou.

O regime iraniano do aiatolá Ali Khamenei é conhecido por financiar o Hamas e outros grupos extremistas, como o Hezbollah e os Houthis. O enfraquecimento recente do Irã, segundo especialistas, foi um dos fatores que facilitaram o fim do conflito em Gaza.

O presidente dos EUA, Donald Trump (esq), discursa perante o parlamento israelense, o Knesset, em Jerusalém - Foto: Saul Loeb/AFP
O presidente dos EUA, Donald Trump (esq), discursa perante o parlamento israelense, o Knesset, em Jerusalém – Foto: Saul Loeb/AFP

Cúpula pela paz no Egito

Após o discurso, Trump seguiu para o Egito, onde participará de uma cúpula internacional de paz com líderes do Oriente Médio, que deve definir os próximos passos do cessar-fogo e as medidas de reconstrução em Gaza.

“Este é um grande dia, um novo começo, porque a guerra acabou”, afirmou o presidente a jornalistas antes da reunião, garantindo que o Hamas cumprirá o plano de desarmamento proposto pelos EUA.

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O acordo histórico

O plano de paz que encerrou o conflito foi apresentado pela Casa Branca no fim de setembro e teve mediação do Egito, Catar e Turquia. Entre os principais pontos do acordo estão:

  • Troca de reféns e prisioneiros: libertação dos 20 últimos israelenses e de quase 2 mil palestinos;
  • Fim dos bombardeios em Gaza e recuo gradual das tropas israelenses;
  • Redução da ocupação de Gaza de 75% para 53%;
  • Supervisão humanitária da Cruz Vermelha durante as entregas.

Apesar do avanço, vários detalhes do acordo ainda não foram divulgados. Trump admitiu que “outras fases estão em negociação” e que ainda não está definido como será a transição de governo na Faixa de Gaza, tampouco se o Hamas aceitará entregar totalmente suas armas ou aceitar uma tutela internacional.

O drama dos reféns

A libertação dos reféns encerra um ciclo iniciado em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas sequestrou 251 pessoas durante ataques terroristas contra Israel. Ao longo dos dois anos seguintes, 203 reféns foram libertados ou resgatados, e 48 permaneceram sob controle do grupo até a conclusão do acordo atual — sendo 28 já mortos.

A operação final foi acompanhada pela Cruz Vermelha Internacional e ocorreu sob vigilância militar israelense. Em troca, Israel libertou milhares de palestinos, incluindo militantes, jornalistas e ativistas civis.

Pessoas aguardam a libertação dos israelenses ainda detidos em Gaza na Praça dos Reféns, em Tel Aviv - Foto: Ahmad Gharabli/AFP
Pessoas aguardam a libertação dos israelenses ainda detidos em Gaza na Praça dos Reféns, em Tel Aviv – Foto: Ahmad Gharabli/AFP

Imagens divulgadas pelo governo israelense mostraram reféns emocionados reencontrando familiares após quase dois anos de cativeiro.

Um novo capítulo na história do Oriente Médio

O discurso de Donald Trump no Parlamento israelense simboliza o início de uma fase de reconstrução e diplomacia, após anos de destruição e hostilidades. Ainda que o cessar-fogo enfrente desafios e incertezas, o tom adotado pelo presidente norte-americano — que mesclou firmeza e reconciliação — marcou um momento inédito de convergência entre inimigos históricos.

O fim da era do terror chegou, e com ele nasce a esperança de um Oriente Médio finalmente em paz”, concluiu Trump, sob aplausos intensos e lágrimas de parlamentares israelenses.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

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