Os Estados Unidos realizaram na última quinta-feira (4) uma das maiores ações do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) em um único local desde a criação da agência, há 22 anos. Quase 500 imigrantes sem documentos foram detidos em uma fábrica da Hyundai Motor, em Ellabell, no estado da Geórgia, a cerca de 40 quilômetros de Savannah.
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Segundo autoridades, a operação resultou na prisão de 475 trabalhadores que atuavam na construção de uma planta destinada à produção de baterias para veículos elétricos, fruto de uma parceria entre a Hyundai e a sul-coreana LG Energy Solution.
O complexo industrial, avaliado em US$ 7,6 bilhões, é considerado o maior projeto de manufatura na história da Geórgia e se tornou palco de uma ação que evidenciou o choque entre duas políticas da administração Donald Trump: a repressão à imigração ilegal e o incentivo à reindustrialização do país.
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Detalhes da investigação
De acordo com documentos do mandado de busca, os alvos iniciais eram apenas quatro trabalhadores hispânicos. No entanto, a ação se expandiu rapidamente, alcançando centenas de funcionários do canteiro de obras.
As autoridades informaram que todos os detidos estavam em situação irregular nos EUA, seja por entrada ilegal no país ou por vistos vencidos. Até o momento, nenhuma acusação criminal formal foi apresentada, e as investigações continuam em andamento.
Repressão em locais de trabalho
A operação é mais um exemplo da estratégia do governo Trump de intensificar a fiscalização em locais de trabalho. Nos últimos anos, o ICE tem realizado incursões semelhantes em frigoríficos, empresas agrícolas e indústrias, mas a dimensão da ação na fábrica da Hyundai se destaca como a maior até agora.
Autoridades locais afirmam que a iniciativa busca reduzir a contratação de mão de obra irregular, que, segundo eles, pressiona os salários e afeta o mercado de trabalho legal. Por outro lado, críticos apontam que operações desse tipo geram insegurança e instabilidade econômica, especialmente em setores que dependem fortemente de trabalhadores imigrantes.
Reação da Coreia do Sul
O episódio também teve repercussões internacionais. O presidente sul-coreano, Lee Jae Myung, determinou um “esforço total” do governo para responder à prisão de centenas de cidadãos coreanos envolvidos na operação.
O ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Cho Hyun, declarou que uma equipe de resposta foi formada para acompanhar o caso e que poderá viajar a Washington para discutir o assunto diretamente com autoridades norte-americanas.
Segundo o governo sul-coreano, mais de 300 trabalhadores detidos seriam cidadãos do país asiático, o que pode gerar tensões adicionais entre Seul e a administração Trump.
Impactos políticos e econômicos
Analistas avaliam que a operação poderá afetar tanto as relações diplomáticas entre os dois países quanto o futuro da fábrica da Hyundai, considerada estratégica para os planos dos EUA de expandir a produção de veículos elétricos.
A ação também reacende o debate interno sobre a necessidade de reformas no sistema de imigração, já que os Estados Unidos enfrentam uma demanda crescente por mão de obra em setores de construção e manufatura, ao mesmo tempo em que intensificam o controle de fronteiras.