A Justiça de Bangladesh condenou nesta segunda-feira (17) a ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, de 78 anos, à morte por crimes contra a humanidade relacionados à violenta repressão aos protestos estudantis que derrubaram seu governo no ano passado.
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Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), as manifestações deixaram cerca de 1.400 mortos, em sua maioria pelas Forças Armadas do país.
Condenação
“Todos os elementos constitutivos de um crime contra a humanidade estão reunidos.Decidimos impor uma única pena, a pena de morte”, declarou o juiz do tribunal de Dacca, Golam Mortuza Mozumder.
Hasina enfrentou cinco acusações relacionadas principalmente à incitação ao assassinato de manifestantes, à ordem de enforcamento de manifestantes e à ordem de uso de armas letais, drones e helicópteros para reprimir os protestos. Ela nega as acusações.
O tribunal, localizado na capital Daca e que julga crimes de guerra em Bangladesh, anunciou o veredito sob forte esquema de segurança e ainda o fez na ausência de Hasina, que fugiu para a Índia em agosto de 2024. Ela pode recorrer da sentença à Suprema Corte do país.
Após a divulgação da sentença, o governo bangladense pediu à Índia que extradite Hasina, argumentando que Nova Déli (capital da Índia) é obrigada a devolver a condenada a Bangladesh em virtude de um tratado de extradição entre os dois países.
Crítica da ex-primeira-ministra
Em resposta à condenação, Hasina afirmou que a sentença é “enviesada e com motivação política” e questionou a isonomia do tribunal que a julgou. Ela defendeu que seu governo “perdeu o controle da situação” durante o levante estudantil, porém disse que “não é possível caracterizar o que ocorreu como um ataque premeditado contra cidadãos”.
A ex-premiê disse também que não teve acesso à ampla defesa e que pretende enfrentar seus acusadores em um “tribunal adequado, onde as provas possam ser avaliadas e examinadas de forma justa”.
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Hasina foi representada no julgamento por um defensor público nomeado pelo Estado, que afirmou ao tribunal que as acusações eram infundadas e pediu a absolvição da ex-premiê.
A decisão ocorre meses antes das eleições parlamentares, previstas para fevereiro. O partido de Sheikh Hasina, a Liga Awami, foi impedido de concorrer, e teme-se que o veredito desta segunda possa alimentar novas revoltas populares antes da votação.
Sheikh Hasina e os protestos estudantis
Sheikh Hasina, de 78 anos, assumiu como primeira-ministra de Bangladesh em 2009 e foi creditada como a responsável por impulsionar a indústria têxtil do país.
Ela é filha do líder fundador de Bangladesh, Sheikh Mujibur Rahman, que lutou na guerra de independência.
Seu longo governo, que durou cerca de 15 anos, chegou a um clímax quando os protestos estudantis tomaram as ruas de Bangladesh, em 2024. A principal motivação dessas manifestações foi um sistema de cotas do governo que estabelecia um terço dos empregos governamentais reservados para parentes de veteranos da guerra de independência do país contra o Paquistão, em 1971.
Durante o julgamento, os promotores informaram ao tribunal que haviam encontrado evidências de uma ordem direta de Hasina para usar força letal na repressão aos protestos.
Até 1.400 pessoas podem ter sido mortas durante os protestos, entre 15 de julho e 5 de agosto de 2024, e milhares ficaram feridos, a maioria por disparos das forças de segurança, segundo um relatório da ONU.
Desde a fuga de Hasina para a Índia, Bangladesh tem sido governada por uma administração interina liderada pelo vencedor do Nobel da Paz, Muhammad Yunus. Durante anos, ele foi atacado por anos por Hasina e condenado por corrupção sob o governo dela.
Antes mesmo do anúncio do veredito do julgamento, Sajeeb Wazed, filho e assessor de Hasina, disse à agência de notícias Reuters que eles não recorreriam da sentença a menos que um governo democraticamente eleito assumisse o poder com a participação da Liga Awami.









