O jornalista Mino Carta, fundador e diretor de redação da revista Carta Capital, faleceu nesta terça-feira (2), aos 91 anos, no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista. Segundo a publicação, ele vinha enfrentando problemas de saúde, em idas e vindas do hospital, e estava internado na UTI nas últimas duas semanas.
LEIA TAMBÉM: William Bonner deixa Jornal Nacional após 29 anos; César Tralli assume bancada ao lado de Renata Vasconcellos
A morte foi confirmada às 5h59 da manhã pela própria revista em suas redes sociais e site oficial. O velório está marcado para as 12h de hoje, no Cemitério São Paulo, em Pinheiros, na Zona Oeste da cidade.
Nascido em Gênova, na Itália, Mino Carta construiu uma carreira que se confunde com a história da imprensa brasileira. Fundou e dirigiu algumas das revistas mais influentes do país, entre elas Quatro Rodas (1960), Veja (1968), IstoÉ (1976) e CartaCapital (1994).
Também esteve à frente do Jornal da Tarde (1966), considerado inovador por sua linguagem e diagramação, e do Jornal da República (1979), que, embora não tenha prosperado, é lembrado como marco na imprensa nacional.
Ao longo da carreira, Mino enfrentou conflitos com a ditadura militar, especialmente após a Veja denunciar torturas praticadas pelo regime, o que resultou em censura e pressões políticas.
Confira “Filhos do Silêncio” de Andrea dos Santos
Em seus últimos anos, o jornalista expressava desencanto com a política brasileira e criticava os impactos da tecnologia no jornalismo, afirmando que a imprensa se tornara “escravizada pelas novas mídias”.

Apesar de sua vasta atuação, ele considerava que sua maior realização foi a CartaCapital, fundada em 1994. A publicação, que em 2025 completou 31 anos, foi construída, segundo ele, sobre três pilares: fidelidade aos fatos, espírito crítico e fiscalização do poder.
Além do jornalismo, Mino também se dedicou à literatura, publicando romances que misturam memórias pessoais e reflexões filosóficas, como Castelo de Âmbar (2000), A Sombra do Silêncio (2003) e A Vida de Mat (2016).
Relação com Lula
Mino Carta manteve ao longo da vida uma relação de amizade próxima com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O vínculo começou em 1978, quando, pela revista IstoÉ, concedeu a Lula sua primeira grande entrevista, na época em que o então sindicalista presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
O último encontro público entre os dois ocorreu em junho de 2024, em São Paulo. Nesta terça-feira (2), o presidente lamentou a morte do amigo em nota oficial:
“Mino foi – e sempre será – uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um país justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras.”
Lula destacou ainda que Mino foi responsável por abrir espaço para sua primeira capa de revista e acompanhou de perto momentos históricos, como a redemocratização, as Diretas Já e as eleições presidenciais. O petista afirmou que pretende ir a São Paulo para participar do velório.
O falecimento de Mino Carta também gerou manifestações de outras autoridades. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) escreveu nas redes sociais:
“O Brasil perdeu hoje um de seus maiores jornalistas. Mino Carta dedicou toda sua vida à criação e ao desenvolvimento de publicações que fizeram história na imprensa brasileira, dando voz à defesa dos valores democráticos. Que seu exemplo siga inspirando as novas gerações de jornalistas.”
Reconhecido como um dos nomes mais importantes do jornalismo nacional, Mino Carta deixa como legado publicações que moldaram gerações de profissionais e marcaram a luta pela liberdade de imprensa no Brasil.