Após ter sido condenado em primeira instância a oito anos e três meses de prisão por piadas consideradas preconceituosas, o humorista Leo Lins estreou a turnê “Enterrado Vivo” em São Paulo. No espetáculo, o comediante adotou novas medidas para evitar a circulação de trechos do show. Os celulares do público foram lacrados em bolsas especiais, que só puderam ser abertas após o término da apresentação. Um aviso exibido no telão reforçou a proibição de gravações, transcrições e divulgações, com base na legislação de direitos autorais.
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Durante cerca de uma hora, Lins abordou temas como racismo, deficiência, questões de gênero e saúde, sob o argumento de que as falas faziam parte de um personagem. O humorista afirmou que o conteúdo do show não deveria ser interpretado como opiniões pessoais, mas como parte de uma performance artística.
Ainda assim, o tom da apresentação seguiu provocativo, e as piadas mantiveram o estilo já conhecido do humorista. Pessoas com deficiência auditiva foram comparadas a focas. Gays, travestis, feministas e pessoas gordas apareceram como alvos em um vídeo de introdução. A sigla LGBTQIA+ virou piada por conta da extensão, e o símbolo “+” foi associado a pessoas soropositivas. Preta Gil, que já havia acionado a Justiça contra Lins, foi alvo de uma fala que ironizou seu diagnóstico de câncer. Já o ator Paulo Gustavo, morto por Covid-19 em 2021, também foi citado, desta vez como alguém que “não foi cancelado, só pela Covid”.
Entre uma provocação e outra, o comediante se colocou como vítima de uma perseguição judicial e midiática. Criticou jornalistas, inclusive chamando uma repórter de “puta”, sem citar nomes, e afirmou que suas falas são frequentemente distorcidas pela imprensa.
No encerramento, o humorista se encontrou com o público e tirou fotos com fãs. Quem comprou um de seus livros teve prioridade na fila.
A volta de Lins aos palcos reacendeu o debate sobre os limites da liberdade de expressão no humor. Enquanto a defesa do artista sustentou que se tratava de conteúdo artístico, decisões judiciais apontaram a existência de discurso discriminatório em seu material. O caso segue em discussão na Justiça, e o humorista ainda pode recorrer da sentença.