O influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, vive em São Paulo e mistura humor com reflexões sobre saúde mental em seus conteúdos. No dia 6 de agosto, ele publicou o vídeo “Adultização”, no qual denuncia como crianças podem ser expostas e exploradas em plataformas digitais. O influenciador mostrou que, em poucos cliques, é possível chegar a materiais ligados à pedofilia, favorecidos pela lógica dos algoritmos de recomendação.
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A repercussão foi imediata. Em menos de 24 horas, o vídeo alcançou 4 milhões de visualizações e hoje soma mais de 45 milhões de acessos. A mobilização fez muitas famílias repensarem a exposição dos filhos na internet. Cristiane, professora e mãe, contou ao Fantástico que retirou todas as imagens do filho das redes. “É minha função proteger meu filho, e eu não tinha noção da gravidade disso”, afirmou.
O conceito de “adultização”
Felca explica que o termo “adultização” resume a prática de privar crianças do brincar livre e colocá-las em contextos adultos. Segundo especialistas ouvidos pelo Fantástico, essa prática compromete o desenvolvimento emocional e pode deixar marcas profundas na saúde mental.
O vídeo também popularizou o termo “algoritmo P”, criado por Felca para se referir à lógica de recomendação que estimula a circulação de conteúdos que sexualizam menores.
Debate chega a Brasília
O caso ultrapassou a internet e reacendeu a discussão em Brasília. O Projeto de Lei 2628/2022, que propõe novas regras de proteção digital para crianças e adolescentes, ganhou força no Congresso. O texto prevê verificação obrigatória de idade, controles parentais mais rígidos e remoção imediata de conteúdos de exploração infantil.

Em audiência pública, a senadora Damares Alves (Republicanos) afirmou que “as crianças estão clamando por proteção”. Já o senador Alessandro Vieira (MDB), autor da proposta, criticou as plataformas digitais:
“Elas sabem perfeitamente se é uma criança ou um adulto que está usando. Mas se preocupam apenas em extrair dados, não em proteger”, declarou.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), já pautou a votação em regime de urgência, sob relatoria do deputado Jadyel Alencar (Republicanos).
O que dizem as plataformas
Diante da repercussão, a Meta, dona de Instagram e Facebook, declarou que remove qualquer conteúdo de exploração infantil assim que identificado, além de adotar medidas para impedir que adultos suspeitos encontrem perfis de crianças. A empresa também afirma que mantém equipes especializadas em segurança infantil e coopera com autoridades.
O YouTube, plataforma também citada por internautas após a denúncia, informou que tem políticas rigorosas contra exploração e abuso de menores, incluindo sistemas automáticos e revisores humanos para identificar violações. A empresa reforçou que perfis que compartilham ou incentivam esse tipo de conteúdo são banidos da plataforma e que trabalha com organizações de proteção à infância.
Ameaças contra Felca
Apesar da onda de apoio e mensagens de agradecimento recebidas de vítimas e famílias, Felca relatou ter sofrido ameaças de morte após a publicação do vídeo. A Polícia Civil de São Paulo abriu investigação para identificar os responsáveis.
O influenciador, porém, afirma que não pretende recuar.
“Eu mantenho a cautela, mas eu tô fazendo algo que é mais importante do que eu. Desculpa aí, não vou conseguir parar.”