Entrevista: Wanderléa fala sobre Raul Seixas

Durante minhas caçadas em busca de personalidades que conviveram com Raulzito – embora em 2023 muitos já estivessem lá em cima na beira da piscina – consegui o contato de Wanderléa pela internet. Graças as facilidades do século XXI, encontrei seu telefone, mas na verdade não era dela, e sim o de sua produtora.

Mesmo assim conseguimos por seu intermédio fazer uma breve entrevista contando um pouco sobre a parceria que Raul fez com ela, tanto em 1978 em um pout-pourri de marchinhas de carnaval, como Estrela Dalva, Jardineira, Máscara Negra, Bandeira Branca, O teu cabelo não nega, dentre outras, quanto no álbum azul (Carimbador maluco) de 1973 com a música Quero mais.

Já com seus oitenta anos, e ainda na ativa, com seu sotaque mineiro, foi muito receptiva e simpática, assim como já previa.

Entrevista realizada em 04 de novembro de 2023:

Ricardo Lacava – Salve, salve, rapaziada. Hoje no programa trazemos Wanderléa, cantora, compositora, artista, instrumentista brasileira que fez seu sucesso no movimento da Jovem Guarda, ao lado de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, dentre outros grandes nomes da música brasileira.

Então, Wanderléa, eu queria agradecer primeiro imensamente a sua participação aqui no programa, a atenção e a disponibilidade de termos essa oportunidade de trocarmos esta ideia e eu queria começar a nossa entrevista com você dizendo um pouco sobre o início de sua carreira, como é que se deu essa vontade de se tornar cantora, quantos anos você tinha, enfim, conta um pouco dessa trajetória um pouco pra gente.

Wanderléa – Bem, Ricardo, é um prazer estar aqui conversando com você. Meu início de carreira foi bem menina. Quando criança eu quis cantar, desde menina, desde três anos de idade eu disse pra minha mãe que eu ia ser cantora, e comecei a gravar com uns quinze anos de idade, gravar na gravadora Columbia, que hoje é Sony Music, mas cantei em programas infantis importantes na rádio Tupi, na rádio Mayrink Veiga, programa do vovô Odilon, programa do Samuel Rosemberg, fiz televisão, tudo quando criança.

Ricardo Lacava – Bom, Wanderléa, eu queria que você contasse um pouco como é que foi o seu primeiro contato com Raulzito e como que era sua personalidade.

Wanderléa – Bem, Ricardo, eu conheci o Raulzito na Bahia quando fui fazer um show com Roberto, com Erasmo, num campo de futebol, e quem nos acompanhou foi o conjunto do Raul, do Raulzito… Raulzito e seus Panteras foi o primeiro contato que eu tive com ele… depois fiquei amiga aqui quando cheguei em São Paulo, quando comecei a gravar, fiquei muito amiga dele, amiga próxima, morei próximo dele diversas vezes… na realidade duas vezes, quando morei na Granja Viana, depois quando morei aqui… quando veio morar aqui do lado de meu apartamento aqui em São Paulo… mas sempre nos querendo muito bem… sempre com uma relação muito bonita, ele e Kika… foram em casa foram mostrar o Rock das Aranhas para mim e meu marido Lalo, muito querido mesmo.

Ricardo Lacava – Bom Wanderléa, em 1978, você e Raul Seixas fizeram diversas parcerias gravando clássicos de marchinhas de carnaval, que inclusive os ouvintes podem encontrar esses clipes no YouTube, e que também iremos tocar agora depois desta pergunta. Eu queria que você contasse como é que foi essa parceria, o processo de gravação. Diga lá um pouco pra gente.

Wanderléa – As marchinhas de carnaval foi um convite da Globo, da TV Globo. Nós gravamos, fomos pro estúdio, fizemos os arranjos, vimos o som… e foi muito divertido. Raulzito…  Raul era muito… tinha uma expressão corporal muito plástica, muito do jeito dele e tal, e eu também sempre gostei da cena, né, então foi muito divertido fazer… De vez em quando eu vejo na televisão, eles reportam, colocam no ar de novo, eu me divirto muito…

Ricardo Lacava – Wanderléa, em 1983, Raul Seixas gravou o álbum azul, também conhecido como o álbum Carimbador Maluco, e nesse álbum, Raul e você gravaram uma música da qual gosto muito que é Quero mais, uma espécie de mistura de reggae, baião e xaxado, onde vocês alternam a voz como se fosse um casal.

É uma música muito bacana que iremos tocar na sequência desta pergunta. Inclusive para quem quiser procurar no YouTube tem o vídeo dessa música onde vocês tocaram no programa da Hebe (vide vídeo abaixo). Eu queria que você contasse como é que foi esse processo de gravação, como que Raul veio te chamar para participar desse álbum. Diga lá um pouco pra gente.

Wanderléa – Em 83 o Raulzito gravou esse LP. Naquela época, né, era Long Player, e me convidou para fazer uma faixa. Foram em casa, ele e Kika, me convidar para fazer o Quero mais, pela Eldorado, e foi muito divertido… no final nós ficamos fazendo um improviso. Eu lembrei da Rose Marie Muraro, questionando as coisas da situação da mulher, do homem, do machismo do homem, e nos divertimos muito, e a gravação ficou muito boa e até hoje as pessoas adoram, adoram! Eu gravei na… tive uma aparição com ele fazendo essa música no programa da Hebe Camargo e foi uma lembrança que eu tenho desse nosso encontro.

Ricardo Lacava – Então eu queria que você contasse um pouco dos seus trabalhos mais recentes, e dissesse aqui contatos para shows para quem quiser contratá-la.

Wanderléa – É, realmente eu gravei muita coisa depois da Jovem Guarda… gravei Egberto Gismonti, gravei Djavan, gravei muito, gravei Melodia, gravei… Nossa! Todos os grandes compositores da época da música popular brasileira… muito Gonzaguinha, e agora na época da pandemia eu fiquei em casa pensando assim… adoro fazer projetos, né! Todos foram projetos que eu fiz… o Wanderléa Maravilhosa, o Feito Gente, o Mais que a paixão… Aí eu resolvi fazer um projeto lembrando da minha infância quando eu cantava na rádio Mayrink Veiga com Regional do Canhoto… Eu ouvia os chorinhos que ele… que eles tocavam, e ficava aprendendo as letras, porque era muito rápido, a dicção era muito rápida, me divertia muito querendo acompanhar a dicção, principalmente focada na Ademilde Fonseca, e gravei um disco de choros, que eu tô me apresentando agora com Os Clássicos de Choros Brasileiros com uma… para mostrar a importância da música brasileira na época dos primórdios, né… como uma apresentação para deixar saudade aí para os jovens, conhecer esses clássicos maravilhosos.

Ricardo – E para finalizar, eu queria, não fazer uma pergunta, mas queria que você deixasse aqui um recado final para os fãs de Raulzito e para os fãs da boa música.

Wanderléa – Te agradeço muito, esse papo rápido que nós tivemos, aos ouvintes todos de São Carlos, da rádio de São Carlos, um abraço muito grande… e música… a vida sem música seria impossível, né? Um grande abraço, viu Ricardo!

Autor

  • Ricardo Lacava

    Ricardo Lacava é veterinário graduado pela UNESP, mestrado pela UFSC e Doutorado pela UNESP/Harper Adams University (Sanduíche/Reino Unido). Graduação em letras pela UFSCAR em andamento. Servidor público federal do Ministério da Agricultura desde 2008. Menção honrosa no Prêmio Literário Cidade de Manaus 2024. Autor do romance “Infecundo Solo”, segundo lugar no Prêmio José de Alencar do Concurso Internacional de Literatura União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, 2017. Vencedor do Prêmio Literário Uirapuru 2019 com o livro “Astúncio, o estúpido esclarecido” e do XIV Prêmio Literário Livraria Asabeça 2015 com a obra “O Canto do Urutau (A Lenda do Mãe-da-lua)”. http://lattes.cnpq.br/3957903174743776

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