O poder da torcida: Como a arquibancada transforma jogos

O futebol é conhecido por sua imprevisibilidade, mas tem um ponto fora das quatro linhas que pode fazer total diferença no resultado da partida: a torcida. O apoio que vem da arquibancada não é simbólico. Existem pesquisas que mostram que o torcedor influencia diretamente o desempenho dos 11 (ou, no caso, 22) que estão em campo.

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Estudos mostram que clubes mandantes vencem cerca de 60% dos jogos em campeonatos de pontos corridos. Essa vantagem que muitos chamam de fator casa está ligada à presença da torcida local, que acaba criando um ambiente muito mais favorável para o time mandante, motivando ainda mais os jogadores e podendo influenciar algumas decisões de arbitragem.

Foto: Theo Daolio | @theodaolio

Existem casos marcantes que comprovam esse fato. Em 2012, o Corinthians tinha uma equipe um tanto quanto inferior às outras que disputavam a Libertadores, mas a combinação de um elenco bem treinado com o apoio de uma torcida fanática acabou empurrando o time para a final, fazendo o timão campeão invicto da competição, mesmo tendo que enfrentar um dos estádios mais temidos por todos: Estádio Alberto J. Armando, mais conhecido como La Bombonera. Estádio esse que é famoso pela pressão passada pela torcida sobre o time adversário.

Logo em seguida, ainda em 2012, o Corinthians foi para o Mundial de Clubes no Japão, para enfrentar o Al Ahly na semifinal, saindo vitorioso por 1 a 0 e chegando à final. Na decisão, enfrentaria o Chelsea, o então campeão da Champions League. Foram aproximadamente 30 mil corintianos (vale lembrar que a viagem Brasil–Japão leva de 25 a 30 horas). O resultado: Corinthians campeão mundial. Em documentário, os jogadores dizem que saíram vitoriosos naquela partida por conta do apoio da torcida.

Foto: Reprodução | x.com

Em 2013, na decisão da Libertadores, o Atlético-MG contou com a força da torcida no Mineirão para reverter uma desvantagem de dois gols contra o Olímpia e conquistar o título.

Na mesma competição, em agosto deste ano, o São Paulo recebeu o Atlético Nacional (COL) pelo jogo de volta das oitavas de final. A ida foi catastrófica para os colombianos: 0 a 0 e dois pênaltis perdidos. Na segunda partida, o Tricolor tinha que mostrar sua soberania no Morumbi. A chegada do ônibus foi surpreendente: um corredor de fumaça nunca antes visto. Nas arquibancadas: 57.559 torcedores, o recorde de público do São Paulo em 2025. O resultado: 1 a 1 no tempo normal e o Tricolor avança nos pênaltis.

Foto: Maicon Oliveira | @mv_puera13

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Segundo o psicólogo esportivo João Ricardo Cozac, o incentivo da torcida funciona como um verdadeiro combustível emocional para os atletas. O som das palmas, os gritos de apoio e a vibração das arquibancadas aumentam a ativação fisiológica, elevando os níveis de energia e melhorando o estado de alerta.

O atleta se sente parte de algo maior, o que aumenta sua motivação intrínseca para superar desafios e se doar ao máximo pela equipe ou pelo clube. É como se a energia do público fosse compartilhada com o jogador, criando um ambiente que favorece o desempenho”, explica Cozac.

O Corinthians citado anteriormente, vem tendo notícias negativas, tanto politicamente como financeiramente. Porém, chegou a final do Campeonato Paulista 2025 contra seu maior rival: o Palmeiras. No jogo de ida venceu por 1 a 0 como visitante, e na volta contou com a festa da torcida para segurar um empate em 0 a 0 para voltar a ser campeão após anos na fila de espera.

Danilo Fernandes / Meu Timão

O mesmo Palmeiras foi aos Estados Unidos disputar a primeira Copa Do Mundo de Clubes em junho deste ano e foi o time brasileiro que levou mais público a jogos da fases de grupos da competição. Foi uma festa fortíssima da torcida, com direito a invasão na Times Square. O rendimento do time não foi o esperado. O Verdão caiu nas quartas-de-final para o Chelsea, mas a festa alviverde foi linda.

 Foto: Cesar Greco/Palmeiras

O efeito também pode ser psicológico para os visitantes. O barulho, a tensão e a atmosfera intensa podem gerar uma espécie de desconforto e, consequentemente, comprometer o rendimento.

Porém, por outro lado, esse apoio precisa ser equilibrado, pois críticas e vaias podem elevar o nível de ansiedade dos atletas e acabar atrapalhando o próprio time. Cozac alerta que esse efeito depende da preparação emocional do atleta. Enquanto jogadores mais experientes conseguem equilibrar o incentivo da torcida em confiança e rendimento, atletas menos preparados podem interpretar a intensidade como cobrança, aumentando o risco de ansiedade e erros.

“A pressão externa amplifica o estresse e pode provocar sintomas como insônia, fadiga emocional ou ansiedade pré-jogo. Sem preparo, o jogador começa a associar a presença da torcida a um risco emocional, e não a um suporte.”

Autor

  • Vinícius Nazza

    Vinícius Nazza é estudante de Jornalismo, apresentador de telejornais e CEO do Portal Ponto360. Fã declarado de esportes, encontrou na comunicação sua verdadeira paixão: informar precisão e sensibilidade. Com espírito inquieto e sede de conhecimento, está sempre em busca de evolução, tanto pessoal quanto profissional. No comando do Ponto360, lidera uma equipe jovem e engajada, dedicada a transformar o jornalismo em uma experiência mais próxima do público.

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