A McLaren vive o ápice e o abismo na mesma temporada. Mesmo conquistando o décimo título mundial de construtores da Fórmula 1, a equipe inglesa atravessa um dos momentos mais turbulentos de sua história recente. O decacampeonato, confirmado no GP de Singapura, coroou a consistência e o domínio da equipe nos últimos dois anos, mas também escancarou fissuras internas e uma preocupante queda de desempenho nas pistas.
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A vitória de George Russell, da Mercedes, em Marina Bay, quebrou a sequência de triunfos da McLaren e acendeu o alerta: foram três provas seguidas sem vitória, algo inédito para o time em 2025. Com isso, o domínio absoluto que marcou o início da temporada começa a dar lugar a incertezas.
McLaren supera a Williams e se torna a segunda maior campeã da história
Com o segundo lugar de Lando Norris e o quarto de Oscar Piastri em Singapura, a McLaren garantiu os pontos necessários para selar o título de construtores com seis etapas de antecedência — um recorde que iguala a marca da Red Bull em 2023. O feito coloca a equipe à frente da Williams, somando dez conquistas, e consolidando-se como a segunda maior campeã da história da F1, atrás apenas da Ferrari, que lidera com 16 títulos.
A escuderia fundada em 1966 conquistou seu primeiro campeonato em 1974, com Emerson Fittipaldi e Denny Hulme, e viveu sua era de ouro entre 1984 e 1991, quando nomes como Niki Lauda, Alain Prost, Ayrton Senna e Gerhard Berger levaram o time ao topo. Depois de décadas de jejum, o renascimento veio em 2024, encerrando uma espera de 26 anos sem títulos.
Com Zak Brown no comando executivo e Andrea Stella como chefe de equipe, a McLaren voltou a ser referência. O carro de 2025 manteve o ritmo competitivo da temporada anterior, acumulando 12 vitórias em 18 corridas — sete com Piastri e cinco com Norris. Ainda assim, a recente sequência negativa e o clima de tensão entre os pilotos preocupam os bastidores.
Tensão em Singapura: colisão, rádios exaltados e ausência na festa
O GP de Singapura, palco da consagração do título, também revelou o pior momento de relacionamento entre Norris e Piastri. Logo na largada, os dois se tocaram na curva 3, em uma manobra agressiva de Norris para ultrapassar o companheiro. A direção de prova classificou o incidente como “acidente de corrida”, mas o australiano não escondeu a insatisfação no rádio:
— “Estamos bem com Lando me empurrando pra fora do caminho dele? Isso não é justo.”
A irritação de Piastri aumentou quando foi informado de que Norris não seria punido. O piloto chegou a ironizar o julgamento:
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— “Se pra evitar outro carro ele precisa bater no próprio colega de equipe, então é um trabalho de m…”

Durante a prova, o desconforto ficou ainda mais evidente. Norris, questionado sobre deixar o companheiro parar antes nos boxes, inicialmente concordou, mas depois voltou atrás. Piastri teve um pit stop lento de 5s2, o que comprometeu qualquer chance de pódio. Após a corrida, o australiano desligou o rádio enquanto Zak Brown o parabenizava pelo título — e não participou da celebração principal no pódio, marcando um gesto simbólico da tensão interna.
Mais tarde, em entrevista, o jovem piloto tentou amenizar a situação:
— “Foi uma corrida difícil, mas esta noite é o resultado de muito trabalho de toda a equipe. É um momento de orgulho, apesar do que aconteceu na largada.”
“Regras papaya” colocadas à prova
A filosofia da equipe, conhecida como as “regras papaya” — referência à cor laranja dos carros —, prega liberdade para os pilotos disputarem entre si, desde que haja respeito e nenhum toque. Zak Brown, em 2024, resumiu:
— “É seu companheiro de equipe; jogue duro, mas jogue limpo. Não o toque.”
No entanto, a colisão em Singapura e os atritos anteriores, como no GP do Canadá e na Itália, colocam em xeque essa política interna. O chefe Andrea Stella e Brown classificaram o episódio como uma “corrida acirrada”, mas o desgaste entre os pilotos é inegável — especialmente agora que ambos disputam diretamente o título mundial de pilotos.

Atualmente, Oscar Piastri lidera o campeonato, mas viu sua vantagem cair de 25 para 22 pontos sobre Norris. Max Verstappen, vencedor em Monza e Baku, reduziu a diferença para 63 pontos e segue como ameaça, pronto para se aproveitar do caos interno em Woking.
Declínio momentâneo ou sinal de alerta?
A McLaren chega à reta final da temporada sem vitórias nas últimas três corridas e com tensão crescente na garagem. Analistas atribuem o desempenho oscilante a uma possível pausa no desenvolvimento do carro de 2025 e ao avanço dos rivais — especialmente Mercedes e Red Bull.
O próximo desafio será em Austin, no GP dos Estados Unidos, em 19 de outubro. O circuito das Américas, com curvas de média e alta velocidade, deve indicar se a McLaren atravessa apenas uma fase instável ou se realmente entrou em declínio técnico e emocional.

Enquanto isso, a equipe comemora o feito histórico de ser a segunda maior campeã da Fórmula 1, mas o ambiente interno revela uma verdade incômoda: o maior adversário da McLaren, neste momento, é ela mesma.
Ranking histórico de títulos de construtores na Fórmula 1:
- Ferrari – 16 títulos
- McLaren – 10 títulos
- Williams – 9 títulos
- Mercedes – 8 títulos
- Lotus – 7 títulos
- Red Bull – 6 títulos
- Brabham, Cooper e Renault – 2 títulos
- Benetton, Brawn GP, BRM, Matra, Tyrrell e Vanwall – 1 título
Próxima etapa: GP dos Estados Unidos — 19 de outubro de 2025, Circuito das Américas.









