Aos 42 anos, Marcelinho Huertas entra para a história da Liga Espanhola de Basquete. Em uma atuação memorável, o armador brasileiro marcou 39 pontos na vitória do La Laguna Tenerife por 96 a 81 sobre o Joventut Badalona, em jogo válido pelas quartas de final dos playoffs da ACB. Com isso, Huertas quebrou o recorde de maior pontuação em um jogo de playoffs da liga nos últimos 32 anos, superando marcas que pareciam inalcançáveis.
Essa performance não foi apenas um lampejo de talento. Foi um lembrete firme e preciso de que experiência, inteligência e preparo físico podem superar os limites do tempo. Com 31 minutos em quadra, Huertas converteu 12 de 18 arremessos (66% de aproveitamento) e 5 de 6 nas bolas de três (83%). Um domínio absoluto de cada momento ofensivo.
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“Uma vitória muito importante, pois fizemos valer o mando de quadra na abertura do playoff”, declarou Huertas logo após o jogo. “Sabíamos que seria um jogo duro, mas conseguimos nos impor nos momentos mais importantes da partida.”

O impacto da atuação ecoa em vários níveis. Desde 1992, nenhum jogador havia marcado tantos pontos nos playoffs da liga espanhola. O último a chegar perto foi o norte-americano David Russell, que anotou 43 pontos em 1987. A façanha de Marcelinho Huertas também iguala o recorde de pontos do próprio clube, que pertencia a Eddie Phillips.
Além da pontuação impressionante, Huertas se tornou o jogador mais velho da história da competição a alcançar tal feito, desbancando o ex-armador Joan Creus, que aos 40 anos marcou 23 pontos em 1997. Trata-se de um feito quase inimaginável em uma liga altamente competitiva e física como a ACB.
O desempenho do brasileiro também tem peso no cenário internacional. Na NBA, nenhum jogador com mais de 42 anos chegou a esse nível de pontuação em um jogo de mata-mata. Kareem Abdul-Jabbar, um dos maiores pivôs da história, e Udonis Haslem, foram destaques em idades avançadas, mas nunca atingiram essa marca.
O que torna a performance ainda mais admirável é o contexto. Huertas foi eleito recentemente o MVP da temporada, sendo o jogador mais velho a receber o prêmio na história da liga. Mesmo com o prestígio, a cobrança continua — e ele entregou mais uma vez.
“É um privilégio jogar neste nível e continuar ajudando minha equipe a vencer. Enquanto meu corpo e minha mente permitirem, estarei aqui”, afirmou o armador.
Com o triunfo, o La Laguna Tenerife abriu 1 a 0 na série melhor de três. O segundo jogo será realizado em Badalona, e uma nova vitória classificará a equipe às semifinais. Caso necessário, o terceiro confronto ocorrerá em Tenerife.
Aos olhos da torcida e dos amantes do basquete, Marcelinho Huertas não é apenas um jogador veterano em atividade. Ele é um símbolo de resiliência, inteligência tática e amor ao jogo. Sua presença em quadra transmite uma confiança rara. Seus gestos, sua leitura do jogo, seu controle de ritmo — tudo isso compõe uma aula viva de basquete.

Não é exagero dizer que sua atuação reescreve parte da história do esporte espanhol. Ela reafirma que o basquete não é apenas um jogo de força e juventude, mas de visão, constância e, sobretudo, paixão.
Em tempos em que tantos atletas se aposentam cedo ou migram para mercados menos exigentes, Huertas opta por se desafiar no mais alto nível. E não apenas compete — domina.
Seu legado se expande a cada jogo, e sua carreira se torna inspiração para novos jogadores e motivo de orgulho para o basquete brasileiro.