Em um domingo histórico para a Fórmula 1, Nico Hulkenberg finalmente quebrou o maior jejum de pódios da história da categoria, ao terminar o Grande Prêmio da Inglaterra na terceira colocação. Aos 37 anos e após 239 provas disputadas sem figurar entre os três primeiros, o alemão da Sauber cruzou a linha de chegada sob forte emoção, celebrando não só o melhor resultado de sua carreira, mas também o renascimento de uma trajetória marcada pela resiliência.
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Largando apenas da 19ª posição do grid, Hulkenberg parecia fadado a mais uma corrida discreta. Mas a combinação entre chuva intermitente, estratégia certeira e sangue frio nos momentos cruciais mudou completamente o roteiro do veterano.
“Foi um tempo grande esperando. Que corrida, fui praticamente de último. É surreal, não sei como tudo aconteceu, mas foi uma condição maluca, uma corrida de sobrevivência. A gente conseguiu a melhor estratégia sem errar, incrível” afirmou Hulkenberg, ainda tentando assimilar o feito, após conter as lágrimas na entrevista pós-corrida.
O pódio em Silverstone foi também o primeiro da Sauber desde 2012, quando Kamui Kobayashi terminou em terceiro no Japão. Após a prova, Hulkenberg foi ovacionado pelos engenheiros e mecânicos no pit lane, e teve até o nome cantado pelos membros da equipe.

Gabriel Bortoleto, companheiro de time e primeiro a abandonar a prova, fez questão de registrar sua emoção pelo rádio:
“Nico, é o Gabi. Cara, você não sabe o quão feliz eu estou por você. Você é uma lenda do c…, honestamente, insano o que você fez hoje”.
Oportunidade e resistência
A corrida começou com pista molhada, e Hulkenberg optou por largar com pneus intermediários — ao contrário de alguns adversários que tentaram apostar nos pneus de pista seca e precisaram fazer pit stops logo nas voltas iniciais.
A estratégia pagou dividendos rápidos. Já na volta 10, com nova pancada de chuva e entrada do safety car, a Sauber chamou o alemão para colocar outro jogo de intermediários. Quando a prova foi retomada, ele já estava entre os cinco primeiros.
Na volta 35, veio o momento decisivo: a ultrapassagem sobre Lance Stroll, da Aston Martin, garantindo o terceiro lugar. Na parte final da corrida, com pista secando, Hulkenberg ainda segurou Lewis Hamilton, que vinha de pneus macios, e consolidou o resultado mais marcante de sua longa carreira.

De promessa a guerreiro do grid
Hulkenberg estreou na F1 em 2010 pela Williams, e logo chamou atenção ao conquistar a pole no GP do Brasil daquele ano. Passou por Force India, Sauber, Renault, Haas e Aston Martin, mas sempre viveu à sombra do “quase”.
Em 2012, chegou perto do pódio no Brasil, quando liderava com a Force India, mas um erro em disputa com Hamilton o tirou da prova. Desde então, acumulou corridas sólidas, mas sem brilho nas estatísticas. Até agora.
Com 239 GPs até o pódio, Hulkenberg superou a marca anterior, que pertencia a Adrian Sutil (128 corridas sem top 3). Agora, o alemão deixa de ser o dono do maior jejum da história e entra para o seleto grupo dos que, um dia, ouviram o hino e ergueram o troféu.
Próximos passos
A vitória de Lando Norris com a McLaren ficou em segundo plano diante da comoção que envolveu Hulkenberg. O campeonato segue para o GP da Bélgica, mas o foco está, por ora, no homem que esperou uma eternidade — e não desistiu.
“Quando eu vi no último pit stop que a gente conseguiu abrir do Lewis, comecei a acreditar de fato”, concluiu Nico, já com a voz embargada.
E nesse domingo molhado e caótico de Silverstone, não foi só a chuva que lavou a alma de um piloto — foi a justiça do tempo para quem jamais parou de tentar.