Crise sem precedentes: San Lorenzo à beira da falência enfrenta paralisação total e caos administrativo

A tradicional equipe argentina San Lorenzo de Almagro, um dos clubes mais emblemáticos do país e de maior identificação com o Papa Francisco, atravessa a pior crise de sua história recente. A poucos dias do prazo final para quitar uma dívida milionária, o clube está paralisado administrativa e financeiramente, sem poder assinar contratos com jogadores, patrocinadores ou fornecedores.

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Segundo o jornal argentino Clarín, a dívida de 4,7 milhões de dólares (cerca de R$ 28 milhões) precisa ser paga até domingo (19) para evitar a falência judicial do clube. No entanto, a crise política e interna impede qualquer tentativa de solução imediata.

Papa torcia para o San Lorenzo - Foto: Reprodução/San Lorenzo
Papa torcia para o San Lorenzo – Foto: Reprodução/San Lorenzo

O colapso administrativo se agravou com a renúncia coletiva de funcionários da secretaria e da tesouraria, o que impossibilita a assinatura de novos contratos, inclusive com patrocinadores e atletas.

Após uma decisão judicial, Marcelo Moretti foi reconduzido à presidência — ele havia deixado o cargo em abril após uma série de escândalos. Embora Moretti tenha agora autoridade para autorizar pagamentos, a ausência de um secretário impede legalmente o fechamento de qualquer contrato, deixando o clube em um estado de total imobilidade.

Escândalos, denúncias e debandada na diretoria

A crise política do San Lorenzo começou com a divulgação de imagens comprometedoras em que Moretti aparece recebendo dinheiro sem registro contábil oficial, levantando suspeitas de corrupção. Ex-dirigentes também denunciaram falsificação de documentos dentro do clube.

O caso resultou em afastamento temporário do presidente e na renúncia de treze dirigentes, desmantelando a estrutura administrativa. Mesmo após a Justiça permitir seu retorno, Moretti foi expulso por torcedores revoltados, que o receberam com protestos violentos na sede do clube. O dirigente precisou deixar o local escoltado em uma viatura policial, enquanto pedras e objetos eram arremessados.

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A oposição interna também se intensificou. Ulises Morales, presidente do Conselho de Administração, chegou a sugerir que Moretti “passasse por um exame psiquiátrico”. O conselho, por sua vez, propõe novas eleições e a formação de um governo de transição para tentar salvar o clube.

Ano desastroso também dentro de campo

Além do caos político, o desempenho esportivo do San Lorenzo em 2025 foi decepcionante. O clube ficou fora de todas as competições continentais, agravando ainda mais sua situação financeira.
No cenário nacional, a equipe caiu nas semifinais do Torneio Apertura para o Platense — que acabou sendo campeão — e foi eliminada pelo Tigre nas oitavas de final da Copa da Argentina.

No atual Clausura do Campeonato Argentino, o time comandado por Damián Ayude ocupa o sexto lugar do Grupo B, com 16 pontos, e ainda se mantém na zona de classificação para o mata-mata. O próximo desafio será na segunda-feira (20), às 21h15, contra o Atlético Tucumán, fora de casa.

Raízes da dívida milionária

A origem do rombo financeiro remonta a 2020, quando o clube vendeu o atacante Adolfo Gaich ao CSKA Moscou. Para manter o fluxo de caixa à época, o então presidente Marcelo Tinelli recorreu a dois empréstimos com o fundo suíço AIS Investment Fund:

  • US$ 1,5 milhão em julho de 2020, com vencimento no ano seguinte;
  • US$ 2,5 milhões quatro meses depois, a serem pagos em quatro parcelas semestrais até o fim de 2022.

Nenhum dos empréstimos foi quitado.

Quando o CSKA pagou pela transferência de Gaich, o valor foi enviado diretamente ao San Lorenzo — e não ao fundo credor. Mesmo assim, o clube não repassou o dinheiro ao AIS Investment Fund, acumulando juros e multas.

Em 2021, o San Lorenzo reconheceu oficialmente a dívida, que subiu para US$ 4 milhões. Tentativas de acordo foram feitas, mas nenhum plano de pagamento foi cumprido. Agora, com a determinação judicial, o valor total a ser pago chega a US$ 4,7 milhões, incluindo juros e correções. A decisão não cabe recurso.

Um símbolo nacional à beira do colapso

Fundado em 1908, o San Lorenzo de Almagro é um dos “cinco grandes” do futebol argentino, com uma das torcidas mais apaixonadas do país — da qual o próprio Papa Francisco é um dos mais ilustres torcedores.
O clube, que já viveu períodos de glória e superação, agora enfrenta a ameaça real de desaparecer juridicamente, caso não quite sua dívida até o fim do prazo.

Sem direção estável, sem recursos e com o elenco em incerteza, o San Lorenzo se encontra entre a fé e a falência, tentando sobreviver ao maior drama de sua história centenária.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

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