Contas do Corinthians são reprovadas no Conselho Deliberativo

Na noite dessa segunda-feira (28), o Conselho Deliberativo do Corinthians reprovou as contas de 2024. Reunião que ocorreu no Parque São Jorge ficou marcada pelos argumentos do CORI que pesaram na decisão da votação.

Por 130 votos contra 73, o conselho deliberativo seguiu as observações levantadas pelo CORI, sendo a principal delas o aumento de R$829 milhões no passivo do Corinthians (salários, impostos, gastos administrativos, equipamentos e entre outros). Entretanto, isso não significa que houve aumento na dívida bruta, que deve ser calculada após aprovação das contas do clube.

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O que diz a gestão de Augusto Melo?

O balanço divulgado pela diretoria do Corinthians informa que houve um déficit de R$181,7 milhões, onde foi justificado que a gestão herdou uma dívida de R$191,2 milhões da gestão de Duílio Monteiro Alves que não foi contabilizada no balanço de 2023, referentes a juros de 2022 e 2023 de dívidas pendentes do clube.

Além disso, o balanço divulga que a dívida atual do clube se encontra em R$2,5 bilhões, um aumento de aproximadamente R$600 milhões comparado ao balanço de 2023, onde entram os R$191 milhões “herdados” da gestão anterior.

Negativa do conselho fiscal e do CORI

Na sexta-feira (25), o Conselho Fiscal do Corinthians sugeriu a reprovação das contas do clube após verificar incoerências e dúvidas sobre o balanço entregue por parte da diretoria presidida por Augusto Melo e o ex-diretor financeiro Pedro Silveira, que saiu do clube por problemas de saúde no sábado (26).

Após a recomendação do conselho fiscal chegar ao CORI (Conselho de Orientação), o órgão apontou diversos argumentos para sustentar a negação das contas do clube na votação que ocorreu no conselho deliberativo.

Entre as incoerências apontadas se destacam a aplicação da campanha dos Gaviões da Fiel para quitar a Neo Química Arena como receita, ausência de faturas referentes a cartões de crédito do clube que somadas dão o valor de R$4,8 milhões, o contrato de Memphis Depay que não foi encaminhado ao CORI e que foi vazado na imprensa durante as férias, falta de demonstrações contábeis, não apresentação da composição dos valores do material esportivo, não contestação dos valores da rescisão com a PixBet e apresentação das medidas contra a VaideBet.

Além do mais, o CORI apresentou ao conselho deliberativo que a dívida passiva do clube aumentou para R$829 milhões em 2024, ou seja, todas as obrigações financeiras que o Corinthians tem com seus terceiros (impostos, funcionários e fornecedores) aumentaram, causando estranheza para o órgão. Já que o balanço apresentado apontou R$600 milhões.

Confira uma parte do documento apresentado pelo CORI

Dessa forma, contabilizamos 16 votos recomendando a reprovação das contas e 1 voto pela aprovação, consignado pelo Sr. Celso de Oliveira Sobrinho, para que sejam tomadas as devidas medidas, reforçando que entendemos que é obrigação deste órgão fiscalizar, bem como neste ato a reprovação preserva a instituição junto aos órgãos de controle, como por exemplo, o PROFUT, demonstrando a efetividade na atuação dos órgãos fiscalizadores internos do clube e funcionamento junto à instituição, bem como a indicação de Gestão Temerária.”

Nos chamou a atenção o déficit financeiro de 19,4%, ficando à beira da violação do art. 25, Inciso IV da lei 13.155/15, que dispõe que este déficit não pode ultrapassar 20% da receita bruta apurada no exercício anterior, o que nos causa preocupação por conta dos critérios contábeis utilizados, como, por exemplo, a utilização dos valores arrecadados com as doações da torcida para pagamento da arena como receita do clube, como veremos adiante.

Apesar de a receita ter atingido valores superiores a R$ 1 bilhão, o endividamento voltou a subir após ter-se mantido em queda nos últimos 3 anos. O fato que nos chamou atenção é que o endividamento chegou a R$ 829 milhões, número muito próximo do total do faturamento.

Esses números demonstram que o controle de despesas ou de endividamento não foi uma preocupação prioritária da Diretoria do clube, despesas financeiras elevadas com aumento de mais de R$ 120 milhões, bem como despesas operacionais com futebol com aumento de mais de R$ 80 milhões.

Em relação aos chamados ajustes gerenciais, observamos que:

  • (i) Apropriação do juros PROFUT – R$ 30,2 milhões.
  • (ii) Contingências prováveis 2023 – R$ 56,2 milhões.
  • (iii) Parcelamento de ISS PMSP – R$ 76 milhões.
  • (iv) Contingências de dívidas passadas – R$ 28,8 milhões.
  • Total: R$ 191,2M

Para esses itens, não nos foram encaminhadas documentação de suporte, como composições de saldo, extrato de controles de órgãos reguladores, composições ou cartas de circularização de advogados e controles de auditoria, sendo estes solicitados em reuniões e por escrito até o dia 24/04/2025.

A não entrega das cartas de advogados contendo ados processos com probabilidade de perda como provável, possível ou remota dos exercícios de 2023 e 2024 nos impede de realizar comparativos, orientações ou até mesmo conferência da alegada possibilidade de erro de classificação no exercício anterior.

E qual é o valor oficial da dívida?

Oficialmente, o valor bruto da dívida do Corinthians só será divulgado após a nova análise de contas de todos os conselhos até sua aprovação oficial. Todavia, com o aumento passivo da dívida, espera-se um aumento da dívida bruta do clube que foi apresentada aos órgãos do clube no valor de R$2,5 bilhões.

O Corinthians precisa entregar seu resultado financeiro oficialmente até 30 de abril (quarta-feira), se não irá enfrentar as punições cabíveis dentro da Lei Geral do Esporte que podem acabar excluindo o clube de benefícios federais e de conseguir parcelamentos de dívidas e financiamentos/empréstimos com bancos.

Quais são as consequências da reprovação de contas?

Após a reprovação de contas, um novo processo de análise irá ser feito, precisando passar pelos conselhos novamente. Entretanto, a crise política que o Corinthians vivencia e a falta de apoio para o presidente Augusto Melo podem encaminhar para um novo processo de impeachment aberto contra a diretoria atual do clube.

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