O GP da Bélgica, deste domingo (27), foi uma corrida de várias camadas: da apatia nas disputas pela ponta ao protagonismo emergente de um calouro brasileiro que, com personalidade e ritmo, exigiu e obteve a inversão de posições com seu companheiro de equipe. Gabriel Bortoleto, da Sauber, conquistou um importante nono lugar em Spa-Francorchamps, mas foi sua postura firme no rádio, ao cobrar a inversão com Nico Hülkenberg, que reverberou nos bastidores da Fórmula 1:
“Se não conseguir passar, que ele me deixe passar!”
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A fala aconteceu após a parada nos boxes, quando Bortoleto retornou atrás de Hülkenberg, que havia se antecipado na troca para pneus de pista seca. O alemão se aproveitou de uma hesitação de Liam Lawson e ultrapassou o brasileiro, mas ficou preso no tráfego, travando também o companheiro de equipe.
Com ritmo superior, Bortoleto não hesitou no rádio:
“O Nico tem que ultrapassar ele, cara! Se não, que ele me deixe passar!”

O engenheiro José Manuel López pediu cautela e gerenciamento de pneus, mas a equipe percebeu o ritmo do brasileiro e autorizou a troca de posições. Hülkenberg foi avisado em cima da hora, já na curva Eau Rouge, e cedeu o espaço na reta Kemmel, no início da volta 20.
Bortoleto seguiu firme até o final da corrida, sem ser ameaçado, e cruzou em 9º lugar, somando mais dois pontos no campeonato, agora com seis no total. Hülkenberg, por sua vez, sofreu com a degradação dos pneus, parou novamente e terminou fora da zona de pontuação, em 12º.
Enquanto Bortoleto ganhava elogios por sua atitude, o restante do paddock vivia uma mistura de nostalgia e frustração. A vitória tranquila de Oscar Piastri, conquistada ainda na largada após ultrapassar Lando Norris, somada à falta de ultrapassagens e ao atraso de mais de uma hora por conta da chuva, reacendeu um debate:
Spa-Francorchamps ainda deve estar no calendário da F1?

O lendário circuito belga é considerado um dos mais desafiadores do mundo, mas a dificuldade em realizar ultrapassagens com os carros atuais e as decisões cada vez mais conservadoras da direção de prova levantaram dúvidas sobre sua viabilidade.
Max Verstappen foi direto ao criticar a FIA:
“Vamos parar de correr na chuva e esperar até que esteja seco? Eu teria largado às 15h. Nem estava chovendo. Em duas voltas atrás do safety-car, tudo estaria pronto.”
Lewis Hamilton também apontou exagero:
“Já dava para correr. Fiquei dizendo pelo rádio. Eles exageraram por causa do que aconteceu em Silverstone.”


O que se viu foi mais uma procissão em pista seca, após a chuva mascarar os problemas na fase inicial. Para muitos, a última corrida realmente boa em Spa foi em 2018, com Vettel. Desde então, o traçado clássico tem entregado pouco em emoção, mesmo com clima imprevisível.
Em um fim de semana apagado para a categoria, Gabriel Bortoleto surgiu como um dos poucos destaques positivos. Mesmo estreante, mostrou personalidade, leitura de corrida e liderança dentro da equipe. Sua exigência no rádio não foi egoísmo, mas estratégia clara e fundamentada.
A Sauber confiou em seu julgamento, e a pista provou que ele estava certo. Com mais pontos no bolso e respeito conquistado, o jovem brasileiro vai se firmando como uma das grandes revelações de 2025.
Próxima parada: Hungria

A Fórmula 1 retorna de 1º a 3 de agosto, com o GP da Hungria em Hungaroring. Com Piastri abrindo vantagem, Norris perdendo terreno e Bortoleto se destacando entre os novatos, a temporada ainda tem muitas histórias a contar — mesmo que a briga pelo título, por enquanto, careça de emoção.
Enquanto isso, o novato brasileiro continua a ganhar espaço, pontos e voz dentro do grid. Em um GP morno, foi ele quem acendeu o rádio — e as manchetes.