Tarifaço dos EUA: entenda como novas medidas afetam exportações brasileiras

Impostos sobre produtos importados voltam ao centro das discussões globais após o governo dos EUA, sob Donald Trump, adotar tarifas de até 50% sobre uma série de bens estrangeiros.

Desde o início de seu novo mandato como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump tem apostado no uso agressivo de tarifas de importação como estratégia para fortalecer a economia americana, recuperar sua indústria e atrair investimentos internos. A medida, no entanto, levanta uma série de dúvidas e preocupações sobre seus efeitos, tanto dentro quanto fora dos EUA — especialmente em países como o Brasil, um dos mais atingidos.

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Mas, afinal, o que são tarifas de importação? Quem de fato arca com os custos? E quais as consequências desse tipo de medida econômica? Veja a seguir uma explicação clara e objetiva sobre o tema:

1. O que são tarifas de importação?

As tarifas de importação são impostos cobrados sobre produtos estrangeiros que entram em um país. O objetivo principal dessas tarifas é proteger a indústria nacional da concorrência externa, tornando os produtos importados mais caros e, assim, estimulando o consumo de bens produzidos localmente.

Segundo Luciano Nakabashi, professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP), esses tributos nem sempre estão em vigor, mas, quando utilizados, servem como instrumento de controle de mercado e aumento de arrecadação.

“O país que aplica a tarifa está protegendo seus próprios produtores, que já arcam com uma carga tributária interna, e equilibrando a concorrência com produtos estrangeiros”, explica.

2. Quem paga pelas tarifas?

Apesar da retórica política frequentemente sugerir o contrário, quem paga a tarifa de importação não é o país exportador, mas sim o importador localizado no país que impõe a taxa. Ou seja, no caso do tarifaço de Trump, são as empresas americanas que importam os produtos estrangeiros que arcam diretamente com os custos.

Na prática, isso funciona assim: se uma empresa americana importar um produto de R$ 100 mil com tarifa de 50%, pagará R$ 50 mil a mais em impostos ao governo dos EUA. Esse custo é, então, repassado ao consumidor final.

“A pessoa física é quem sente o peso da tarifa, já que o produto importado chega às prateleiras com preço mais alto”, destaca Carla Beni, economista e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV). Isso vale para uma ampla variedade de produtos — de automóveis a eletrodomésticos, passando por alimentos e matérias-primas.

3. Para onde vai o dinheiro arrecadado com as tarifas?

As tarifas de importação têm também um caráter fiscal. Toda vez que são aumentadas, há um efeito imediato sobre as finanças do governo: a arrecadação cresce.

“O imposto de importação é federal e regulatório. Com o aumento da alíquota, o governo americano passa a contar com mais receita para o Tesouro”, explica Carla Beni. O dinheiro pode ser usado para financiar programas internos, cobrir déficits ou subsidiar setores estratégicos da economia.

4. Por que Trump decidiu aplicar tarifas tão amplas a tantos países?

O atual governo dos EUA segue uma linha fortemente protecionista, característica das plataformas defendidas por Donald Trump desde sua primeira campanha presidencial. A ideia central do protecionismo é reduzir a dependência de produtos estrangeiros, protegendo a produção e os empregos domésticos.

Tarifas de Trump ainda ameaçam setores estratégicos da economia brasileira - Foto: Reprodução/The White House
Tarifas de Trump ainda ameaçam setores estratégicos da economia brasileira – Foto: Reprodução/The White House

Contudo, esse tipo de política pode ter efeitos colaterais importantes. Como substituir importações leva tempo e exige adaptação industrial, a curto prazo o impacto tende a ser o aumento da inflação, já que os produtos ficam mais caros.

Além da lógica econômica, Trump tem usado as tarifas como instrumento político e diplomático, em especial em negociações bilaterais. Um exemplo recente envolve o Brasil, que foi alvo de uma tarifa de 50% sobre diversos produtos, após o governo americano alegar que ações brasileiras — incluindo supostas perseguições jurídicas a Jair Bolsonaro — representariam uma “ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional” dos EUA.

5. O tarifaço vai prejudicar o Brasil?

O Brasil foi um dos países mais afetados pelo novo pacote tarifário americano. Entre os setores atingidos estão os de café, carne bovina, frutas, pescados e mel, todos com forte presença nas exportações brasileiras.

Por outro lado, os EUA deixaram cerca de 700 produtos de fora das novas tarifas, entre eles suco de laranja, petróleo, veículos, peças automotivas, fertilizantes e aeronaves civis. A escolha dos produtos isentos revela uma tentativa de mitigar o impacto interno, já que muitos desses itens são essenciais ou difíceis de substituir rapidamente.

Em resposta, o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, afirmou que o governo brasileiro tem um plano de apoio estruturado para os setores mais vulneráveis. “Ninguém vai ficar desamparado, garantiu, em entrevista ao Mais Você. O plano envolve linhas de crédito, desoneração tributária e apoio técnico para empresas afetadas.

Geraldo Alckmin, Ana Maria Braga e César Tralli no 'Mais Você' de 31 de julho - Foto: Reprodução/Redes sociais
Geraldo Alckmin, Ana Maria Braga e César Tralli no ‘Mais Você’ de 31 de julho – Foto: Reprodução/Redes sociais

Além da atuação do governo federal, estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás também anunciaram pacotes emergenciais de suporte às exportações e às cadeias produtivas mais impactadas.

6. Quais países foram mais e menos afetados pelas tarifas?

A nova rodada de tarifas anunciada pelo governo Trump impôs percentuais variados a dezenas de países, com destaque para o Brasil, que recebeu a tarifa mais alta da lista: 50% sobre diversos produtos exportados aos Estados Unidos. O aumento foi formalizado em um decreto assinado pelo presidente na última quarta-feira (30) e representa a alíquota máxima do chamado “tarifaço”.

Síria (41%), Mianmar e Laos (ambos com 40%) aparecem em seguida entre os mais impactados. Do outro lado da tabela, Reino Unido e Ilhas Malvinas foram os menos afetados até agora, com tarifas de apenas 10%.

A medida representa uma escalada da política tarifária de julho, quando Trump havia iniciado uma ofensiva comercial com envio de notificações a 25 países. A nova ordem executiva também ampliou alíquotas já existentes — o Canadá, por exemplo, teve sua tarifa elevada de 25% para 35% após, segundo a Casa Branca, não avançar nas negociações comerciais e adotar posturas diplomáticas consideradas desfavoráveis, como o reconhecimento do Estado Palestino.

Veja alguns exemplos das novas tarifas impostas pelos EUA:

  • Brasil — 50%
  • Síria — 41%
  • Mianmar e Laos — 40%
  • Canadá — 35% (após reajuste)
  • Israel e África do Sul — 30%
  • União Europeia, Japão e Coreia do Sul — 15%
  • Reino Unido e Ilhas Malvinas — 10%

Apesar da tarifa elevada, o Brasil obteve exceções importantes. Cerca de 700 itens foram poupados, incluindo produtos estratégicos das áreas aeronáutica, energética e agrícola. No entanto, setores como o de café, carne bovina e frutas devem ser diretamente afetados, o que preocupa exportadores brasileiros, já que os EUA são o segundo maior destino das exportações nacionais, atrás apenas da China.

A nova tarifa de 50% entra em vigor no dia 7 de agosto, e especialistas avaliam que o impacto na balança comercial brasileira pode ser expressivo, especialmente se não houver um acordo bilateral que reverta ou flexibilize as medidas.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

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