A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre pescados brasileiros acendeu o alerta máximo no setor. Segundo apuração do jornal O Globo, confirmada em entrevista à CNN por Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), a cadeia produtiva nacional está em risco real de quebrar — e precisa de ajuda urgente do governo federal para não desmoronar.
Lobo afirma que o setor vive uma situação sem precedentes: “A corda já arrebentou para os aquicultores”, disse à CNN. Ele alerta que o impacto pode ser irreversível, e defende uma linha emergencial de crédito entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões como única saída viável para evitar o colapso da indústria.
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“Nosso socorro precisa ocorrer ontem. É um plano emergencial de resgate para um setor que vai quebrar.”
De acordo com a Abipesca, cerca de 70% das exportações brasileiras de pescados têm como destino o mercado norte-americano. Com a imposição da nova tarifa, os pedidos foram suspensos imediatamente.
“No pescado, os EUA simplesmente pararam de comprar e passaram a importar de outros países da América Central. A cadeia está travada.”
“Se o preço do café ou da carne sobe, os americanos ainda compram. No pescado, eles apenas mudam de fornecedor.”
Lobo também foi enfático ao dizer que, diferente de outros produtos brasileiros afetados pelo tarifaço — como suco de laranja, café e carne —, os Estados Unidos não têm dependência dos pescados do Brasil.
Com a nova alíquota, a Abipesca estima uma perda de US$ 200 milhões em exportações até o fim do ano — uma queda de mais de 30% sobre os US$ 600 milhões projetados anteriormente.
O presidente da associação também critica a resposta do governo americano e o cenário de incerteza para negociações. Segundo ele, esperar 90 dias por uma solução diplomática é inviável para um setor que já opera no vermelho.
“Se vai para 60%, 70%, 80%, daqui pra frente é indiferente. Já não está mais competitivo”, disse.
Embora o mercado europeu surja como possível alternativa, Lobo lembra que os pescados brasileiros estão embargados na Europa desde 2017, e que o acordo Mercosul-União Europeia ainda não foi ratificado. “O setor precisa de algo imediato, uma excepcionalidade.”
Além das perdas econômicas, o impacto social também preocupa. A produção de pescados no Brasil é majoritariamente familiar e artesanal, gerando emprego e renda em regiões de baixo IDH.
“É um trabalho de décadas se desmanchando, porque depois de ocupado o espaço na mesa do consumidor americano, dificilmente conseguiremos voltar a ocupar novamente.”