O real acumula uma valorização expressiva de aproximadamente 11% em 2025, com a cotação do dólar caindo de R$ 6,18 no início do ano para cerca de R$ 5,50 atualmente, segundo dados do Banco Central do Brasil (BCB). Essa trajetória coloca a moeda brasileira como a terceira mais valorizada do mundo, atrás apenas do rublo russo e da coroa sueca, em um ano marcado por pressões inflacionárias nos Estados Unidos e distorções nas cadeias globais de comércio.
A recuperação do real, embora sustentada por fundamentos locais sólidos, também é fruto de um cenário internacional em transformação. O índice DXY, que mede a força do dólar frente a moedas fortes como euro, iene e franco suíço, acumula queda de quase 10% em 2025, reflexo da perda de atratividade da moeda americana diante de déficits fiscais recordes nos EUA e da sinalização de cortes futuros na taxa de juros pelo Federal Reserve.
No front doméstico, o principal fator de sustentação do real tem sido a política monetária. A taxa Selic em 15% ao ano, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), tornou o Brasil um destino atrativo para investidores globais em busca de rendimento real positivo. Segundo a Anbima, os fluxos de entrada de capital estrangeiro para ativos de renda fixa somam mais de US$ 2,5 bilhões por mês em média ao longo do ano, especialmente nos setores de energia e financeiro.
Além disso, o superávit comercial robusto impulsionado pela valorização das exportações de soja, petróleo e minério de ferro aumentou a oferta de dólares no país. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) indicam que a soja, sozinha, responde por quase um quarto das exportações agropecuárias em 2025.
Banco Central atua com firmeza para conter volatilidade
A atuação da autoridade monetária também foi determinante para a estabilidade cambial. Sob a liderança de Gabriel Galípolo, o Banco Central adotou uma estratégia de leilões regulares de swap e venda direta de moeda, evitando distorções abruptas no câmbio. A nova gestão também vem atribuindo parte significativa das pressões inflacionárias ao comportamento do dólar, reforçando a justificativa para essas intervenções.
A valorização da moeda brasileira não se explica apenas por méritos internos. A expectativa de cortes graduais nos juros americanos enfraquece o dólar globalmente, o que, somado a tarifas comerciais impostas pelos EUA contra a China, reduziu o apelo da moeda como “porto seguro” tradicional. O próprio presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, tem adotado um tom cauteloso diante da inflação resiliente, o que afeta diretamente a direção dos fluxos internacionais.
Apesar da valorização recente, o real continua sensível a variáveis fiscais e políticas. A reforma tributária, considerada essencial para o equilíbrio das contas públicas, permanece travada no Congresso há mais de 40 dias. O risco fiscal se reflete no indicador EMBI+, que mede a percepção internacional de crédito do país, atualmente em 228 pontos-base, segundo dados compilados pela Secretaria do Tesouro Nacional.
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Outro ponto de atenção está no desempenho da economia chinesa. A desaceleração da demanda industrial ou a retomada de disputas tarifárias entre Pequim e Washington podem impactar diretamente a balança comercial brasileira e, por consequência, o câmbio.
A trajetória de valorização do real em 2025 combina fatores locais, como juros elevados e exportações fortes, com uma conjuntura externa que fragiliza o dólar. No entanto, essa posição confortável depende da manutenção da confiança fiscal, estabilidade política e previsibilidade monetária.
“O que sustenta o real não é apenas a Selic, mas a confiança nas decisões de política econômica”, afirmou Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, em recente entrevista institucional.