Powell acende alerta sobre impacto inflacionário de tarifas dos EUA: “Riscos são claros”

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, voltou a expressar preocupação com o rumo da economia norte-americana diante da adoção de uma tarifa geral de importação, promovida pelo ex-presidente Donald Trump. Desde abril, entrou em vigor uma alíquota padrão de 10% sobre produtos importados, com sobretaxas que chegam a 125% no caso da China, além de aumentos para a Índia e a União Europeia. A medida, justificada como resposta a “práticas comerciais desleais”, marca a maior onda de restrições tarifárias desde os anos 1930.

O alerta do Fed vem em um momento em que os efeitos iniciais da medida ainda estão sendo suavizados pelo estoque acumulado de produtos antes da entrada em vigor das tarifas. No entanto, Powell indicou que esse “colchão temporário” deve se dissipar nos próximos meses, dando lugar a uma pressão inflacionária mais evidente.

Leia mais: E-commerce impulsiona celebrações românticas com faturamento bilionário no mercado

Três pontos de tensão: inflação, crescimento e política monetária

Em discurso recente, Powell destacou que os impactos econômicos das tarifas se desdobram em três eixos. O primeiro é o avanço gradual da inflação, impulsionado pelo aumento no custo de bens importados e possíveis rupturas em cadeias de suprimentos. O segundo ponto é o risco de desaceleração da atividade, já que empresas, pressionadas por custos mais altos, podem reduzir contratações e investimentos. Por fim, ele destacou o desafio central da política monetária: combater inflação sem sufocar ainda mais o mercado de trabalho.

De acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho (BLS), a inflação ao consumidor (CPI) subiu 2,4% em maio, ligeiramente acima da taxa de abril (2,3%). Já o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, se manteve em 2,8%. Economistas consultados pelo Federal Reserve Bank of New York apontam que os efeitos reais das tarifas devem surgir em julho, quando os estoques importados anteriores à medida começarem a se esgotar.

Alguns setores já se preparam para um aumento de custos, como o de eletrodomésticos, alimentos processados e componentes industriais. De acordo com a Tax Foundation, se mantidas, as tarifas podem reduzir o PIB dos EUA em 0,8% até o fim de 2026, além de elevar o custo médio por família americana em US$ 1.445.

Diante do cenário volátil, o Fed decidiu manter a taxa básica de juros na faixa de 4,25% a 4,50%, consolidando o quarto encontro consecutivo sem alterações. Powell afirmou que a autoridade monetária adotará uma postura de “wait-and-see” ou seja, aguardará a evolução dos dados antes de tomar qualquer decisão sobre política monetária.

A dificuldade, segundo o próprio presidente do Fed, está na natureza contraditória do choque tarifário: pressão inflacionária vinda da oferta (e não da demanda), combinada com risco de enfraquecimento do consumo interno e do emprego. O índice de desemprego atual está em 4,2%, mas projeções internas indicam que poderá subir caso a atividade econômica recue.

No plano externo, a resposta dos principais parceiros comerciais dos EUA adiciona uma nova camada de complexidade. União Europeia, China e Canadá já implementaram tarifas retaliatórias em cerca de US$ 330 bilhões em exportações norte-americanas. O receio no mercado é de que o conflito se agrave, afetando o fluxo global de comércio e prejudicando ainda mais os preços ao consumidor.

No campo jurídico, tribunais federais dos EUA avaliam a legalidade das tarifas com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência (IEEPA). Uma decisão definitiva é esperada para o dia 31 de julho, o que pode alterar substancialmente o ambiente de negócios e as projeções macroeconômicas.

Enquanto a inflação permanece relativamente controlada, os sinais de alerta estão se multiplicando. Powell e sua equipe sabem que, se a tempestade comercial se intensificar, a política monetária dos EUA poderá ser colocada à prova em um cenário desafiador: inflação de custo combinada com desemprego crescente — uma equação que exige equilíbrio fino entre metas de estabilidade e estímulo.

Autor

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *