PCC adulterava gasolina e etanol em até 90% com metanol; permitido pela ANP é 0,5%

Investigação do Ministério Público de São Paulo revelou que postos de combustíveis controlados pelo Primeiro Comando da CapitaUma megaoperação realizada nesta quinta-feira (28) desarticulou um esquema criminoso bilionário no setor de combustíveis, comandado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).

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A investigação do Ministério Público de São Paulo revelou que postos ligados à facção vendiam combustíveis com até 90% de metanol, quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) permite no máximo 0,5% na gasolina e no etanol.

O metanol é altamente inflamável, tóxico e corrosivo, podendo causar danos significativos aos veículos já no primeiro tanque cheio. Peças essenciais do motor, como bicos injetores, flauta de combustível, câmara de combustão, guia de válvulas e bombas de combustível, podem sofrer corrosão ou falhas graves. Especialistas alertam que, em alguns casos, veículos abastecidos com metanol podem não funcionar ou sofrer danos irreversíveis.

Segundo os mecânicos consultados pelo G1 e CNN, sinais de combustível adulterado incluem:

  • Perda de potência e consumo elevado;
  • Dificuldade para dar partida pela manhã;
  • Ruídos estranhos do motor, especialmente em subidas;
  • Odor de solvente ou querosene;
  • Acendimento de luzes de alerta no painel.

O combustível adulterado, que chegava ao país pelo Porto de Paranaguá (PR), era desviado e transportado clandestinamente com documentação fraudulenta, sendo usado para adulterar gasolina e etanol nos postos e distribuidoras, gerando lucros bilionários para o PCC.

PCC: Promotor Yuri — Foto: Reprodução
Promotor Yuri – Foto: Reprodução

O promotor Yuri Fisberg, do Ministério Público, destacou:

“O metanol tem restrição na ANP para conter 0,5% em combustíveis. Fiscalizações apontam alguns postos com até 90% de metanol, o que é extremamente arriscado para pessoas, veículos e meio ambiente.”

Especialistas da ANP reforçam os riscos:

“O metanol é altamente perigoso quando usado fora dos limites legais. Ele não só danifica os motores, como também representa risco à saúde e ao meio ambiente. Por isso, a agência mantém fiscalização rigorosa e recomenda que todos os consumidores denunciem irregularidades,” afirmou José Luiz de Souza, da ANP.

Além da adulteração, os consumidores eram vítimas de fraudes quantitativas — pagando por volumes menores que o indicado nas bombas — e fraudes qualitativas, adquirindo combustíveis fora das especificações da ANP.

Para identificar adulterações, a ANP recomenda testes simples: misturar gasolina com água e sal ou utilizar kits de densidade disponíveis nos postos, que permitem medir a qualidade do combustível antes do abastecimento.

O esquema criminoso também fomentou a compra de usinas sucroalcooleiras e a absorção de distribuidoras, transportadoras e postos na estrutura do PCC. Fazendeiros e donos de postos eram obrigados a vender propriedades a preços subfaturados, sob ameaça de morte.

As investigações revelaram uma complexa rede de laranjas, empresas de fachada, fundos de investimento e instituições de pagamento, usada para ocultar os verdadeiros beneficiários do esquema. Estima-se que 30% dos postos em São Paulo, cerca de 2.500 estabelecimentos, tenham sido impactados, evidenciando a dimensão da fraude.

Autor

  • Nicolas Pedrosa

    Jornalista formado pela UNIP, com experiência em TV, rádio, podcasts e assessoria de imprensa, especialmente na área da saúde. Atuou na Prefeitura de São Vicente durante a pandemia e atualmente gerencia a comunicação da Caixa de Saúde e Pecúlio de São Vicente. Apaixonado por leitura e escrita, desenvolvo livros que abordam temas sociais e histórias de superação, unindo técnica e sensibilidade narrativa.

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