A Honda, uma das maiores montadoras do planeta, anunciou nesta terça-feira (20) um recuo bilionário nos investimentos voltados para veículos 100% elétricos. A companhia japonesa vai cortar cerca de US$ 20 bilhões da projeção inicial para sua estratégia de eletrificação até 2031, reflexo direto da desaceleração global na demanda por carros elétricos.
O valor inicialmente previsto era de aproximadamente US$ 69 bilhões. Com a revisão, o montante investido até o início da próxima década será de US$ 48,3 bilhões — uma diferença significativa, que altera o ritmo da transformação energética da montadora.
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Demanda abaixo do esperado
A decisão vem na esteira de um cenário de esfriamento no mercado de elétricos, que já havia feito a Honda suspender, na semana anterior, um ambicioso projeto no Canadá. A fábrica, que receberia um aporte de US$ 11 bilhões, teve seu lançamento adiado, com a empresa justificando que as vendas estão aquém do esperado.
A desaceleração da procura por veículos elétricos não é exclusividade da Honda. Outras montadoras também têm enfrentado dificuldades para ampliar sua fatia de mercado com modelos 100% elétricos, esbarrando em fatores como infraestrutura limitada de recarga, altos custos de produção e a resistência de consumidores em mercados emergentes.
A fabricante japonesa, que pretendia dar saltos maiores rumo à eletrificação total, agora ajusta sua rota e sinaliza uma abordagem mais gradual — e estratégica.
Híbridos como protagonistas da transição
Mesmo com o corte de investimentos, a Honda não está abandonando o plano de descarbonização. Pelo contrário: reafirma o compromisso de alcançar a neutralidade de carbono em seus carros de passeio. Mas, no curto e médio prazo, os veículos híbridos ganharão papel central nesse processo.
A aposta é que os híbridos — modelos que combinam motor a combustão com eletricidade — sirvam como ponte entre os carros movidos exclusivamente por combustíveis fósseis e os totalmente elétricos. Essa linha de produção será ampliada, de acordo com a própria companhia.
“Os híbridos terão um papel estratégico no período de transição energética”, afirmou a montadora em comunicado. A expectativa é que esse tipo de modelo conquiste mais consumidores no momento atual, oferecendo menor emissão de poluentes sem os desafios logísticos de um carro 100% elétrico.
Apesar da revisão de metas, a Honda ainda projeta crescimento em volume de vendas. A empresa pretende ultrapassar a marca atual de 3,6 milhões de veículos vendidos por ano até 2030. Porém, reconhece que dificilmente atingirá a meta de 30% de participação dos elétricos no total de vendas até o fim da década.
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Parceria frustrada com a Nissan

Foto: Bruno Guerreiro
Outro movimento que marcou os últimos meses da Honda foi a tentativa de fusão com a também japonesa Nissan. As negociações, no entanto, não avançaram. A proposta da Honda envolvia transformar a Nissan em uma subsidiária integral — o que não agradou a diretoria da rival, que acabou rejeitando o acordo.
As conversas entre as duas empresas começaram em dezembro do ano passado e tinham como objetivo inicial o anúncio de uma fusão até janeiro deste ano. Com o fim da negociação, as montadoras continuam apenas com a parceria já existente em desenvolvimento tecnológico, formalizada em agosto do ano passado.
A união das marcas, se concretizada, representaria uma das maiores reestruturações da indústria automotiva japonesa na última década. Ainda assim, a colaboração em tecnologia pode render frutos importantes no médio prazo, especialmente no campo da eletrificação e inovação em mobilidade.
Tendência global de reavaliação
O movimento da Honda se encaixa em uma tendência mais ampla na indústria automotiva. Diversas montadoras têm repensado seus cronogramas e metas de eletrificação, equilibrando as exigências ambientais com a realidade econômica e o comportamento dos consumidores.
O entusiasmo inicial com os elétricos deu lugar a uma abordagem mais cautelosa. O custo elevado para produção em larga escala, combinado com a ainda limitada rede de carregamento em várias regiões do mundo, tem feito as empresas reconsiderarem suas estratégias.
Neste novo contexto, os híbridos reaparecem como solução de transição, com boa aceitação de mercado e menores obstáculos operacionais. Para a Honda, essa pode ser a chave para manter a competitividade sem abrir mão dos compromissos ambientais de longo prazo.