As tarifas adicionais impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre a carne bovina brasileira provocaram um forte abalo nas exportações do setor. Em apenas três meses, o volume exportado caiu 80%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
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Em abril, o Brasil enviou 47,8 mil toneladas de carne bovina aos EUA. Esse número recuou para 27,4 mil toneladas em maio, 18,2 mil em junho e, nesta semana de julho, não passa de 9,7 mil toneladas.
A retração coincide com a política tarifária do presidente Donald Trump, que tem adotado medidas protec ionistas com o argumento de fortalecer a produção nacional. A nova rodada de sobretaxas — prevista para agosto — deve impor um adicional de 50% sobre o valor da carne brasileira. Como consequência, frigoríficos de estados como Mato Grosso do Sul já suspenderam a produção destinada ao mercado americano.
Além do impacto no volume, o preço da carne brasileira nos Estados Unidos também foi afetado. A tonelada, que custava US$ 5.200 em abril, agora está sendo negociada a US$ 5.850 — uma elevação de 12%. A escassez do produto, causada pela desaceleração dos embarques, está pressionando os preços em território americano.
A movimentação ocorre em um cenário de alta histórica para a carne brasileira nos EUA. De janeiro a junho deste ano, o Brasil liderava as exportações ao país, com 181,5 mil toneladas embarcadas e um faturamento de US$ 1,04 bilhão. O montante superava com folga a cota anual de 65 mil toneladas prevista em acordos comerciais, mostrando o crescimento da demanda por carne brasileira mesmo fora das cotas estipuladas.

Para evitar prejuízos ainda maiores, o governo brasileiro e representantes da indústria se articulam para tentar reverter ou mitigar os efeitos das novas tarifas. O vice-presidente Geraldo Alckmin lidera as negociações diplomáticas e comerciais com os norte-americanos.
A Abiec reforça que cerca de 70% da produção de carne bovina no Brasil é destinada ao consumo interno. A fatia exportada — aproximadamente 30% — concentra-se em cortes menos valorizados no mercado nacional, mas que possuem alta demanda em países como os EUA, China e Emirados Árabes.
A medida protecionista de Trump acende um alerta. “Redirecionar esses produtos para outros mercados é possível, mas o impacto nos preços e na estrutura logística pode levar meses para ser absorvido”, afirma um executivo do setor.
Com a proximidade da vigência da nova tarifa, importadores americanos tentam antecipar remessas ou renegociar contratos. A expectativa do setor é de que os próximos dois meses sejam de incertezas, tanto para frigoríficos quanto para consumidores dos dois lados.