O dólar comercial encerrou esta sexta‑feira cotado a R$ 5,58, mostrando um leve avanço em relação aos últimos pregões. Apesar da alta modesta, a cotação reflete um mercado que permanece atento às oscilações da economia global e às decisões de política monetária no Brasil. A trajetória da moeda americana tem sido influenciada por uma combinação de juros elevados em território nacional e por incertezas externas, especialmente sobre a política de tarifas dos Estados Unidos.
O principal atrativo para o real é a taxa Selic, que permanece em 15% ao ano. Esse patamar de juros ainda alto mantém o país no radar de investidores estrangeiros em busca de rentabilidade, o que sustenta o fluxo de recursos para aplicações em renda fixa. Ao mesmo tempo, a economia brasileira sofre a pressão da inflação e de um cenário político que segue instável, com debates sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o ajustamento das contas públicas.
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No exterior, o mercado acompanha de perto o comportamento do FED (Federal Reserve). As recentes declarações de lideranças do banco central americano indicam que os cortes de juros nos EUA podem demorar mais do que o inicialmente previsto. Essa perspectiva reforça a atratividade do dólar como porto seguro e reduz o apetite por ativos de maior risco, especialmente em economias emergentes. Paralelamente, eventuais notícias sobre novas tarifas comerciais podem agravar a confiança dos investidores, levando ao fortalecimento temporário da moeda norte‑americana.
A combinação de uma política monetária restritiva nos Estados Unidos e a perspectiva de manutenção da Selic em níveis elevados no Brasil cria um ambiente de incerteza. Investidores ficam receosos de se expor demais, preferindo aguardar sinais mais claros antes de retomar posições mais agressivas no mercado de ações ou de câmbio.
Reflexos na bolsa e no câmbio futuro
O comportamento do dólar não passa despercebido na Bolsa de Valores. O Ibovespa fechou o dia em 133.100 pontos, recuando para acompanhar a cautela do câmbio, a percepção de risco faz com que ações de empresas voltadas ao mercado doméstico ganhem algum fôlego, enquanto papéis de exportadoras e de commodities sofrem com a valorização do real.
No mercado futuro, os contratos de dólar para o próximo mês também registraram leve alta, sinalizando que muitos participantes acreditam em uma cotação um pouco acima de R$ 5,58 nos próximos dias. Essa expectativa de leve valorização futura faz com que empresas reajustem estratégias de hedge cambial e revisem cronogramas de pagamento de insumos.
Para as companhias que dependem de insumos importados, a alta do dólar significa custos maiores. Fabricantes de componentes eletrônicos, indústrias farmacêuticas e distribuidoras de máquinas e equipamentos passam a lidar com margens mais apertadas, já que a elevação do câmbio se reflete no preço final dos produtos. Muitas dessas empresas repassam parte do aumento ao preço ao consumidor, o que contribui para pressionar ainda mais o índice de inflação ao longo dos próximos meses.
Do lado do varejo, consumidores podem observar elevações de preços em itens importados e em setores onde a cadeia de produção contempla matérias‑primas cotadas em dólar. Embora a elevação de R$ 5,58 não seja drástica, ela faz parte de um movimento que, se persistir, terá impacto direto no orçamento familiar, especialmente em bens duráveis e eletrônicos.
O que esperar da próxima semana?
O foco agora se volta para os indicadores de inflação doméstica e para o comunicado da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM). Caso seja sinalizado algum corte na Selic, mesmo que pequeno, o real tende a perder força e o dólar pode subir de forma mais acentuada. Já uma mensagem firme em defesa de juros altos pode reforçar a estabilidade da moeda brasileira, trazendo algum alívio ao mercado.
Ao mesmo tempo, decisões ou declarações do Federal Reserve continuam a ser determinantes. Um CPI americano mais alto ou um discurso mais duro em relação à necessidade de conter a inflação nos Estados Unidos deve impulsionar o dólar globalmente e enfraquecer outras moedas, incluindo o real.
Em um cenário ainda marcado por volatilidade, investidores e empresas precisam acompanhar de perto cada nova informação, ajustando suas estratégias de câmbio e evitando surpresas que possam comprometer resultados financeiros. Com o dólar em R$ 5,58, a palavra de ordem segue sendo a cautela.