Dólar fecha em R$ 5,53 e Ibovespa oscila com incertezas internas e tarifas dos EUA

O dólar comercial fechou nesta quinta-feira, 10 de julho, cotado a R$ 5,53, com alta de 0,36% em relação ao dia anterior. A valorização da moeda norte-americana reflete o aumento do nervosismo nos mercados diante do avanço das tarifas protecionistas anunciadas por Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos e atual pré-candidato à presidência americana. Entre os alvos da medida estão países dos BRICS, incluindo o Brasil.

O anúncio das tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros impactou diretamente a percepção de risco do país. Investidores nacionais e estrangeiros reagiram de forma defensiva, deslocando seus recursos para ativos considerados mais seguros, como o próprio dólar. Além da pressão externa, o cenário doméstico marcado por disputas políticas intensas entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, contribuiu para um ambiente de instabilidade.

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Quando o dólar fecha em R$ 5,53, cada oscilação se transforma em custo extra para indústrias e produtores. Insumos importados ficam mais caros e os estoques precisam ser revistos. Empresas exportadoras sofrem duplo golpe: perdem competitividade nos EUA e recebem menos em reais por cada venda. Para o consumidor, a conta chega no supermercado e na bomba de combustível. A inflação, que já vinha pressionada, corre o risco de acelerar.

Gráfico Dólar/Real – TradingView

Ibovespa caminha de lado com investidores cautelosos

Enquanto o dólar subiu, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, encerrou o pregão praticamente estável, com leve queda de 0,08%, fechando aos 139.743 pontos. Durante o dia, o índice chegou a registrar alta com o desempenho positivo das ações de bancos e varejistas, mas perdeu fôlego nas últimas horas do pregão devido à piora do clima político.

Papéis de exportadoras, como frigoríficos e mineradoras, recuaram diante da preocupação com possíveis barreiras tarifárias e impacto no comércio internacional. Já empresas voltadas ao consumo doméstico e bancos tiveram desempenho mais resiliente, beneficiados pela expectativa de manutenção da Selic em patamar elevado, o que favorece margens financeiras no curto prazo.

A proposta de tarifas de 50% contra o Brasil por parte de Trump reacendeu o debate sobre a fragilidade do país frente às dinâmicas globais. Embora ainda em fase de campanha, a possibilidade de seu retorno à presidência dos EUA tem gerado impacto real no câmbio brasileiro. Isso acontece porque o Brasil é fortemente dependente das exportações de commodities como carne bovina, soja e minério de ferro, produtos que podem ser diretamente afetados por tarifas mais altas.

Ao mesmo tempo, o atraso na articulação política brasileira e a falta de um plano coeso para mitigar os riscos comerciais agravam a volatilidade cambial. A ausência de uma resposta firme por parte das autoridades econômicas e diplomáticas coloca pressão sobre o real e aumenta o custo das importações, afetando também os preços no varejo.

Além do fator externo, o câmbio e o mercado acionário sofrem os efeitos da instabilidade institucional interna. A intensificação da polarização entre Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes, com reflexos diretos sobre processos judiciais e decisões do STF, compromete a confiança dos investidores. A leitura do mercado é de que, enquanto o ambiente político continuar imprevisível, o risco-país tende a permanecer elevado.

As declarações do ex-presidente, críticas ao Judiciário e à condução da política econômica, junto ao embate sobre investigações sensíveis em andamento, enfraquecem a imagem do Brasil como destino seguro para capitais estrangeiros.

Impacto para o consumidor e para os investidores

A elevação do dólar para R$ 5,53 representa mais que um ajuste pontual. Ela encarece diretamente produtos importados, impacta os custos de produção da indústria nacional e eleva os preços no varejo. Itens como combustíveis, eletrodomésticos e até alimentos sofrem com a pressão cambial, o que dificulta o controle da inflação.

Para o investidor brasileiro, a recomendação é de cautela. O cenário atual favorece ativos defensivos, como títulos indexados à inflação e papéis de empresas menos expostas ao comércio exterior. Enquanto isso, o investidor estrangeiro observa com receio a instabilidade institucional e fiscal, aguardando sinalizações mais firmes sobre as reformas estruturais e compromissos com o equilíbrio das contas públicas.

A combinação entre o avanço do dólar, o desempenho fraco do Ibovespa e o risco crescente de atritos comerciais com os Estados Unidos expõe a vulnerabilidade da economia brasileira. O país precisa de ações coordenadas entre política e economia para recuperar a confiança dos mercados. Enquanto isso não acontece, o real segue pressionado, e o investidor deve navegar com cautela num mar ainda revolto.

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