Nesta segunda-feira (9), o dólar comercial fechou em queda de 0,14%, cotado a R$ 5,56, acumulando um recuo de 1,21% no mês de junho. O movimento foi influenciado pela alta das commodities e pela estabilidade momentânea nos mercados globais, mas não conseguiu dissipar as preocupações com a agenda doméstica. A reforma tributária permanece paralisada na Câmara dos Deputados há 42 dias, e a indefinição sobre o veto ao aumento do IOF mantém os investidores em alerta.
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Durante o pregão, a moeda oscilou entre R$ 5,5540 e R$ 5,5970, com liquidez moderada — cerca de R$ 12,8 bilhões em contratos futuros. Três fatores principais impulsionaram a queda:
- Commodities favoráveis: o petróleo Brent subiu 0,57%, cotado a US$ 67,04 por barril;
- Pausa do Fed: ausência de novos sinais de aperto monetário nos EUA, o que aliviou os mercados emergentes;
- Ajuste técnico: operadores aproveitaram o vácuo de notícias negativas para realizar lucros após semanas de volatilidade.
Ainda assim, a taxa PTAX calculada pelo Banco Central, fixada em R$ 5,5757, permaneceu 0,25% acima do valor de fechamento do mercado, refletindo uma postura cautelosa institucional diante das incertezas do cenário econômico. Apesar do aparente alívio no câmbio, existem desafios concretos que continuam pressionando a política econômica e influenciando diretamente o comportamento da moeda.
Entre os principais entraves está a paralisação da reforma tributária (PL 2.345/2025), travada por impasses relacionados à taxação de serviços digitais. Essa indefinição adia a esperada melhora na eficiência fiscal e eleva a percepção de risco. Além disso, o projeto de ajuste fiscal, prometido para maio, ainda não foi enviado ao Congresso Nacional, ampliando as dúvidas sobre a capacidade real do governo de controlar o déficit público, atualmente projetado em 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Outro fator de preocupação é o risco-país, medido pelo índice EMBI+, que se mantém em 228 pontos, patamar considerado elevado. Para efeito de comparação, o México opera com um índice de apenas 130 pontos, o que reforça a desconfiança dos investidores em relação à estabilidade econômica brasileira.
A estagnação legislativa contrasta com a melhora externa, criando uma desconexão perigosa: enquanto as commodities sustentam o real, a falta de reformas dificulta a resistência da moeda no médio prazo.
Nos próximos dias, três eventos interligados definirão se a queda do dólar se sustenta:
- Dados de emprego dos EUA (10/06): forte criação de vagas pode revigorar o dólar global;
- IPCA-15 (11/06): inflação acima de 0,4% pressionaria o Banco Central a elevar juros;
- Votação do IOF (12/06): aprovação do aumento encareceria crédito e investimentos.
Assim, a trajetória do dólar depende agora de respostas concretas aos desafios que afetam a economia brasileira. Embora o recuo recente da moeda americana represente um sinal positivo, ele ainda é frágil diante de três fatores principais.
O primeiro é a dependência externa: mesmo com a alta recente das commodities, esse movimento não é suficiente para compensar as deficiências estruturais da economia nacional, como baixa produtividade e entraves ao investimento. O segundo ponto crítico é o cronograma fiscal: os sucessivos atrasos na tramitação da reforma tributária comprometem a credibilidade do governo e alimentam a percepção de risco entre investidores.
Para transformar o alívio momentâneo em uma tendência sustentável, o governo precisa destravar a agenda econômica ainda em junho. Investidores aguardam não apenas números favoráveis, mas sinais claros de que o equilíbrio fiscal sairá do papel, condição essencial para consolidar o real abaixo de R$ 5,50.