Dólar dispara a R$ 5,48 e impulsiona queda do Ibovespa com temor de “tarifaço” norte‑americano

Na segunda‑feira, 7 de julho de 2025, o dólar comercial fechou em R$ 5,48, registrando alta de 0,99% em relação ao encerramento anterior. Em paralelo, o Ibovespa recuou 1,26%, fechando a 139.490 pontos. O movimento refletiu a aversão ao risco dos investidores diante das novas ameaças tarifárias anunciadas pelos Estados Unidos, reacendendo incertezas sobre o comércio internacional e a saúde das economias emergentes.

O principal gatilho para a alta expressiva do dólar foi o anúncio pelo governo dos EUA de um pacote de tarifas adicionais , apelidado de “tarifaço” , que entraria em vigor a partir de 1º de agosto. Essas tarifas atingiriam em cheio produtos importados de integrantes dos BRICS, com foco em setores chave do agronegócio e da indústria brasileira. A perspectiva de custos maiores para exportadores intensificou a busca por proteção cambial.

Além disso, na mesma sessão, o índice DXY, que monitora o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou alta de 0,35%, reforçando ainda mais o apetite pela moeda norte‑americana como porto seguro em um cenário global mais tenso. A combinação desses fatores sobrecarregou moedas de países emergentes, especialmente o real.

Gráfico do Dólar
Gráfico do Dólar – Imagem: Investing

Como o Ibovespa reagiu

Na B3, o clima externo conturbado se traduziu em forte pressão vendedora. O principal índice oscilou entre 141.341 pontos (máxima intradia) e 139.295 pontos (mínima intradia), com volume financeiro negociado de R$ 17,2 bilhões. O saldo foi uma queda de 1,26% diante do forte fluxo de saída de capitais de renda variável.

Setores defensivos, como utilities, e financeiros lideraram as perdas, tendo seus papéis mais pressionados. Em contrapartida, empresas do agronegócio amorteceram o tombo:

  • BRF fechou em alta de 9,37%, impulsionada pela expectativa de aumento de preços no mercado externo.
  • Marfrig avançou 4,09%, beneficiada por notícias de parcerias comerciais na Ásia.

Para o estrategista Bruno Shahini, da Nomad, “o risco tarifário retornou ao centro das atenções, provocando “desalavancagem” em ativos de maior risco e reforçando a demanda por dólar diante das incertezas nas negociações comerciais”. Esse movimento evidencia que, em momentos de nervosismo global, investidores privilegiam a liquidez e a solidez de ativos considerados mais seguros.

Outro ponto destacado por analistas é que, apesar do nível atrativo da Selic em 12,75% ao ano, esse diferencial de juros não é suficiente para contrabalançar uma potencial escalada de conflitos comerciais. A menor liquidez externa e o receio de retração no comércio global devem manter o real sob pressão no curto prazo.

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Perspectivas para curto prazo

  • Dólar: Ao atingir R$ 5,48, o câmbio acumulou alta de 0,8% em julho, embora ainda conte com um recuo de 11,3% no ano. Caso as tarifas avancem sem negociação ou haja retaliações adicionais, há espaço para novas valorizações da moeda americana.
  • Ibovespa: O índice poderá ficar “à mercê” de rumores e comunicados oficiais dos EUA. Uma reviravolta positiva nas conversas comerciais ou indicadores domésticos fortes, como aceleração do PIB ou dados de emprego e podem reverter o sentimento.

Pontos de atenção para os próximos dias

  • Prazos de negociação: o governo americano estabeleceu até 9 de julho como limite para discussões; após essa data, as tarifas podem ser efetivadas.
  • Commodities: variações nos preços de minério de ferro, soja e carne influenciam diretamente receitas de exportadoras brasileiras.
  • Movimento de capitais: monitorar entradas e saídas de fundos estrangeiros em renda fixa e variável dará pistas sobre a confiança externa no Brasil.

O episódio de hoje evidencia que, mesmo diante de juros elevados, o real segue vulnerável a choques externos, especialmente em um contexto de escalada tarifária dos EUA. A reação negativa do Ibovespa reforça a necessidade de monitorar de perto desdobramentos das negociações comerciais e o comportamento das commodities chave. Para os investidores, a estratégia passa por equilibrar portfólio entre ativos de risco e posições de proteção cambial, mantendo vigilância sobre os prazos de negociação e eventuais sinais de trégua que possam aliviar a tensão global.

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