Um estudo abrangente divulgado pelo Serasa Experian traz um retrato alarmante das finanças das famílias brasileiras. Os dados mostram que 70,5% da renda mensal média está comprometida com o pagamento de dívidas e contas fixas, representando o maior nível de comprometimento de renda já registrado na série histórica da pesquisa.
Este valor significa um aumento significativo de 3,2 pontos percentuais em comparação com o mesmo período do ano anterior, refletindo o agravamento da crise de endividamento que afeta milhões de lares em todo o país.
A distribuição precária da renda familiar
A pesquisa, que ouviu 12 mil famílias em todas as regiões brasileiras, detalha com precisão como cada parcela da renda familiar é destinada ao pagamento de obrigações financeiras. Do total comprometido, a maior fatia de 38,2% é absorvida por empréstimos bancários e financiamentos diversos, incluindo hipotecas e créditos pessoais. As contas básicas de sobrevivência, como água, energia elétrica, gás e serviços de comunicação, consomem 22,1% dos rendimentos mensais.
O cartão de crédito e os rotativos bancários respondem por 10,2% do comprometimento da renda, deixando apenas 20% dos recursos para cobrir despesas essenciais como alimentação, transporte, saúde, educação e outras necessidades básicas.
A análise regional revela disparidades preocupantes em todo o território nacional. A região Nordeste apresenta a situação mais crítica, com 76,3% da renda familiar comprometida com dívidas e contas, refletindo as dificuldades econômicas estruturais da área. A região Norte vem em seguida, com 74,8% de comprometimento de renda, enquanto o Centro-Oeste registra 71,2%. As regiões Sudeste (68,9%) e Sul (67,4%) aparecem em situação relativamente menos grave, mas ainda assim preocupante.
Em valores absolutos, o estado de São Paulo concentra o maior volume de dívidas, totalizando R$ 28,9 bilhões apenas em dívidas de cartão de crédito.
Os principais responsáveis pelo endividamento
O cartão de crédito mantém-se como o principal vilão das finanças familiares, estando presente na vida de 82% das famílias com contas em atraso. Na sequência, aparecem os financiamentos veiculares, que afetam 48% das famílias entrevistadas. Os empréstimos pessoais aparecem como terceira maior causa de endividamento, atingindo 45% dos brasileiros. Completam a lista as contas de consumo básico, com 35% das famílias registrando duas ou mais inadimplências em serviços essenciais.
A situação é agravada pela taxa de juros média no rotativo do cartão de crédito, que atingiu a marca histórica de 432% ao ano em julho, segundo dados do Banco Central.
O estudo conseguiu traçar um perfil detalhado das famílias mais impactadas pela crise de endividamento. As famílias com 3 a 4 membros representam 63% dos casos de superendividamento, enquanto aquelas com renda entre 2 e 3 salários mínimos correspondem a 47% do total.
Os chefes de família entre 35 e 49 anos aparecem como os mais afetados, representando 52% dos endividados. Geograficamente, os moradores de periferias urbanas são os que mais sofrem, correspondendo a 71% das ocorrências de endividamento crítico.
Estratégias de sobrevivência financeira
Diante deste cenário desafiador, o estudo identificou as principais estratégias adotadas pelas famílias para enfrentar a crise. 73% dos entrevistados relataram ter reduzido drasticamente os gastos com alimentação e lazer, enquanto 58% buscaram fontes de renda extras através de bicos e trabalhos informais.
Quase metade das famílias (42%) procurou renegociar suas dívidas diretamente com os credores, e 29% recorreram a empréstimos consignados como forma de alívio temporário. Apenas 12% dos entrevistados buscaram orientação financeira profissional especializada.
Diante da gravidade da situação, o governo federal estuda medidas emergenciais para aliviar o peso das dívidas sobre as famílias. Entre as propostas em análise está o estabelecimento de um limite máximo para juros no cartão de crédito, através do PL 123/2025 em tramitação no Congresso. Outra medida considera a ampliação do crédito consignado para beneficiários de programas sociais.
Também está em discussão a revisão do cadastro positivo para permitir reduções significativas nas taxas de juros para bons pagadores. O Banco Central marcou uma reunião extraordinária para setembro para discutir medidas emergenciais sobre o tema.
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