A Receita Federal já iniciou a implementação do chamado Cadastro Imobiliário Brasileiro (CIB), sistema que vem sendo popularmente apelidado de “CPF dos imóveis”. A proposta é criar um número único de identificação para cada imóvel existente no país, reunindo informações hoje espalhadas entre cartórios, prefeituras, estados e órgãos federais.
Na prática, o governo afirma que o novo cadastro vai facilitar a organização dos dados imobiliários, reduzir inconsistências e melhorar o controle fiscal. No entanto, a medida levanta críticas importantes, especialmente quanto ao aumento da vigilância patrimonial e aos possíveis efeitos sobre o bolso do contribuinte.
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O que é o Cadastro Imobiliário Brasileiro ?
O CIB funcionará como um identificador único nacional para imóveis urbanos e rurais. Assim como o CPF identifica uma pessoa física, o cadastro passará a identificar cada imóvel, independentemente de mudanças de proprietário.
A base de dados será alimentada com informações provenientes de cartórios de registro, prefeituras, cadastros municipais, declarações fiscais e outros bancos de dados públicos. Segundo a Receita Federal, o objetivo é unificar essas informações, evitando divergências e facilitando o cruzamento de dados.
Do ponto de vista oficial, o governo defende que o novo sistema trará mais transparência e eficiência administrativa. A expectativa é reduzir erros cadastrais, agilizar processos de regularização e melhorar a formulação de políticas públicas relacionadas ao uso do solo, habitação e tributação.
Além disso, a Receita argumenta que o CIB não cria novos impostos e não altera, de forma direta, a cobrança de tributos como IPTU ou ITR.
A crítica que preocupa contribuintes
Apesar do discurso técnico, a criação do “CPF dos imóveis” gera preocupação entre especialistas e proprietários. O principal ponto crítico está no fortalecimento do controle fiscal e patrimonial, que passa a ser muito mais detalhado e centralizado.
Com um banco de dados unificado, o cruzamento de informações será mais rápido e preciso. Isso significa que inconsistências entre declarações de renda, registros imobiliários e impostos municipais poderão ser identificadas com facilidade. Na prática, o risco de autuações fiscais aumenta, especialmente para quem possui imóveis não regularizados ou com dados desatualizados.
Outro ponto sensível é a possibilidade de o cadastro abrir caminho para novas formas de tributação no futuro. Embora o governo negue essa intenção no momento, críticos alertam que a criação de uma base nacional estruturada facilita, por exemplo, a discussão sobre impostos patrimoniais mais amplos, o que gera insegurança jurídica para os contribuintes.
Para o cidadão, o novo cadastro pode significar mais obrigações indiretas. Atualizar informações, regularizar imóveis e manter dados alinhados entre diferentes esferas do poder público tende a se tornar cada vez mais necessário.
Especialistas alertam que, sem uma política clara de orientação e apoio, a medida pode penalizar principalmente pequenos proprietários, moradores de áreas periféricas e pessoas que enfrentam dificuldades históricas para regularizar seus imóveis.
Outro aspecto criticado é a baixa divulgação e discussão pública sobre o tema. Apesar do impacto potencial na vida de milhões de brasileiros, o Cadastro Imobiliário Brasileiro vem sendo implementado de forma técnica e silenciosa, sem um amplo debate com a sociedade.
A ausência de campanhas informativas claras aumenta o risco de desinformação e insegurança, especialmente entre contribuintes que só tomarão conhecimento do sistema quando forem diretamente afetados.
O que esperar daqui para frente?
O “CPF dos imóveis” representa uma mudança estrutural na forma como o Estado acompanha o patrimônio imobiliário no Brasil. Embora a organização dos dados seja um avanço administrativo, o modelo adotado reforça o poder de fiscalização do governo sem, até o momento, apresentar garantias claras de proteção ao contribuinte.
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Diante disso, especialistas recomendam atenção redobrada, acompanhamento das regras e busca por regularização documental, enquanto a sociedade cobra mais transparência, debate público e limites claros para o uso dessas informações.









