Preço da carne bovina deve subir em 2026 com menor oferta de bois no campo

O consumidor brasileiro deve se preparar para novos aumentos no preço da carne bovina a partir de 2026. A previsão, sustentada por analistas e dados do setor agropecuário, aponta para um cenário de oferta reduzida de bois para abate, um dos principais fatores que pressionam os valores da proteína nos açougues e supermercados.

Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a cotação da arroba do boi gordo encerrou junho em torno de R$ 310,65, valor considerado estável. No entanto, essa estabilidade pode dar lugar a uma trajetória de alta já nos primeiros meses do ano que vem, conforme o ciclo da pecuária entra em uma nova fase de transição.

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O setor pecuário vive uma mudança estrutural no ciclo de produção. Após dois anos marcados por excesso de oferta, o ritmo de abates começa a cair. Entramos agora na chamada fase de retenção de matrizes, período em que produtores reduzem o abate de fêmeas para investir na recomposição dos rebanhos. Com isso, há menos animais prontos para o mercado, o que naturalmente eleva os preços da arroba.

Além disso, os altos custos de produção, como insumos, medicamentos, ração e combustível, têm desestimulado a engorda intensiva e a reposição de animais, atrasando ainda mais a oferta futura.

Outro fator relevante é o desempenho das exportações brasileiras de carne bovina, que seguem em ritmo forte, especialmente para países asiáticos como a China. Com o dólar cotado acima de R$ 5, o mercado externo segue atrativo, o que acaba limitando a oferta de carne para o consumo doméstico.

A combinação de menor oferta interna com demanda externa aquecida reforça a tendência de valorização da arroba. Projeções indicam que o preço pode ultrapassar a casa dos R$ 330 a R$ 340 no início de 2026, refletindo diretamente nos custos para frigoríficos, redes de varejo e, por fim, para o consumidor final.

Efeitos no consumo da carne e na inflação

Com o encarecimento da matéria-prima, cortes tradicionalmente mais acessíveis – como acém, músculo e paleta também devem sofrer reajustes, impactando diretamente as famílias de menor renda. Especialistas alertam que a alta pode gerar efeitos inflacionários significativos, considerando o peso da carne bovina na cesta básica e no cálculo do IPCA.

A tendência, caso se consolide, poderá ainda alterar o padrão de consumo do brasileiro, incentivando a substituição por proteínas mais baratas, como frango, suína e ovos.

Mesmo com preços mais altos no mercado, a margem de lucro do produtor permanece pressionada. A Selic em 15% ao ano encarece o crédito rural, dificultando investimentos em tecnologias como confinamento, suplementação e manejo intensivo, que seriam alternativas para acelerar a oferta.

Estima-se que o custo adicional para os pecuaristas, diante do cenário atual, pode ultrapassar R$ 50 bilhões em 2026, considerando o encarecimento da engorda e a dificuldade de acesso ao crédito.

Para mitigar os efeitos dessa pressão, o governo federal estuda a ampliação de linhas de crédito para pequenos e médios produtores, além de incentivos a programas de intensificação produtiva.

Também estão em análise mecanismos para estimular a reposição de rebanhos e ampliar o uso de Cédulas de Produto Rural (CPRs) como alternativa de financiamento com menos impacto dos juros elevados.

A meta, segundo técnicos da área econômica, é garantir que a oferta de carne bovina volte a crescer até o segundo semestre de 2026, evitando que o impacto da alta chegue de forma mais agressiva ao consumidor final.

O cenário que se desenha para 2026 é de oferta restrita, custos elevados e demanda firme, tanto no Brasil quanto no exterior. A combinação desses fatores cria um ambiente de valorização para a carne bovina, o que exigirá atenção por parte dos consumidores e ação coordenada entre governo e setor produtivo.

Enquanto o rebanho nacional passa por um processo de recomposição, o mercado se ajusta  e o bolso do consumidor sente. Para muitos brasileiros, a carne vermelha pode se tornar ainda mais distante da mesa, acentuando desigualdades no acesso à alimentação.

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