A decisão do governo dos Estados Unidos de elevar de 25% para 50% as tarifas sobre a importação de aço e alumínio, anunciada por Donald Trump, trouxe forte impacto para o Brasil. Atualmente, quase metade das exportações brasileiras desses produtos é destinada ao mercado norte-americano. Com isso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou negociações bilaterais para obter isenção parcial da nova tarifa, buscando um acordo que permita a criação de uma cota livre de sobretaxa para o envio de siderúrgicos aos EUA.
A sobretaxa de 25%, em vigor desde março, já afetava fortemente as exportações brasileiras. A mudança para 50% aumenta ainda mais a preocupação do setor siderúrgico, que teme perder competitividade e sofrer impactos financeiros. Apenas o Reino Unido foi poupado do aumento, permanecendo na alíquota anterior após ter chegado a um entendimento antecipado com a Casa Branca.
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Representantes do Brasil, como o Instituto Aço Brasil, afirmam que a elevação da tarifa agrava um cenário global já frágil, caracterizado pelo excesso de capacidade e por práticas desleais de comércio. A entidade destaca que o aumento pode prejudicar não só as exportações brasileiras, mas também as indústrias norte-americanas, que dependem do aço e alumínio brasileiros para suprir parte de sua demanda. O Instituto defende o restabelecimento do acordo firmado em 2018, durante o primeiro mandato de Trump. Naquele ano, Brasil e EUA chegaram a um consenso que permitiu exportações de até 3,5 milhões de toneladas de semiacabados e placas, além de 687 mil toneladas de laminados, sem incidência de sobretaxa acima disso, a tarifa era aplicada.
A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) também expressou preocupação com as consequências do aumento tarifário e pediu uma resposta estratégica, que envolva tanto medidas emergenciais de defesa comercial quanto uma visão de longo prazo para reposicionar o Brasil no novo cenário global do alumínio.
Interlocutores do governo brasileiro reconhecem a urgência da questão e intensificam as conversas com os negociadores americanos. Apesar das várias reuniões já realizadas, até o momento não houve anúncio de um entendimento que garanta a retomada das cotas ou outra forma de isenção parcial. Os brasileiros têm argumentado que a sobretaxa prejudica as indústrias norte-americanas, pois essas não conseguem repor, em curto prazo, o volume de aço e alumínio importado do Brasil.
Além das tratativas diretas, o Brasil abriu investigação por suspeita de dumping nas importações de aço vindas da Alemanha, Japão e Holanda, mostrando a preocupação em proteger a indústria nacional diante das distorções de mercado global.
Diante desse quadro, o setor brasileiro de aço e alumínio alerta para a necessidade de uma postura firme e coordenada do governo, não apenas para garantir um alívio imediato às exportações, mas também para projetar uma estratégia de inserção competitiva no mercado internacional. A preocupação é que a elevação de tarifas se transforme em um precedente para futuras restrições comerciais, minando acordos multilaterais e a previsibilidade que sustenta as cadeias globais de produção e comércio.