Devoção e ancestralidade: a força de São Benedito nas comunidades afro-brasileiras

Em meio a tambores, rezas e cores vibrantes, São Benedito é celebrado como símbolo de fé e resistência. Nas comunidades afro-brasileiras, sua devoção vai muito além da religiosidade: ela é uma expressão viva de ancestralidade, identidade e pertencimento.

Homem negro, cozinheiro e humilde, Benedito de Palermo tornou-se, séculos depois, o santo que representa a força espiritual daqueles que sobreviveram ao racismo e à escravidão com dignidade e fé.

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Desde o período colonial, as irmandades de São Benedito foram espaços de acolhimento, solidariedade e resistência negra.

Entre ladainhas e congadas, escravizados e libertos encontravam refúgio na fé do santo que os representava. Hoje, nas festas do interior e nas celebrações urbanas, seu culto mantém viva a herança africana em diálogo com o catolicismo popular e as tradições afro-religiosas.

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Em cidades como Ouro Preto, Alcântara, Aparecida e Cuiabá, as festividades em homenagem a São Benedito são um espetáculo de sincretismo. Entre procissões, batuques e danças, o sagrado e o profano se unem em um mesmo ritmo, reafirmando a força da cultura negra na formação do Brasil.

É uma fé que não se ajoelha apenas diante do altar, mas também diante da história. A figura de São Benedito é, portanto, uma síntese do povo que não se deixou apagar. Ele é o santo da cozinha e da partilha, da música e da dança, da devoção que cura e alimenta.

Sua imagem carrega o perfume do dendê, o som dos atabaques e a força ancestral de quem transforma dor em celebração.Celebrar São Benedito é reafirmar a presença negra nas bases espirituais do país. É lembrar que fé e cultura caminham lado a lado e que, no Brasil, a religiosidade é também um ato político de memória, resistência e amor.

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