Pais que enfrentaram a ditadura militar: memórias de coragem, luta e resistência

Por mais de duas décadas, o Brasil viveu sob o regime autoritário da ditadura militar (1964-1985), que perseguiu, prendeu, torturou e eliminou centenas de opositores políticos.

Entre esses militantes, muitos eram pais homens que, mesmo diante da ameaça constante de violência, decidiram lutar por um país mais justo e livre para as futuras gerações. Essas trajetórias carregam não apenas o peso da militância, mas também a dor das famílias que sofreram com ausências, prisões, desaparecimentos e mortes.

Nesta matéria, resgatamos a memória de oito desses pais corajosos, cujas histórias foram investigadas e confirmadas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) e outras instituições comprometidas com o resgate da memória e a justiça histórica.

Um dos nomes mais conhecidos da resistência armada, Carlos Marighella foi líder da Ação Libertadora Nacional (ALN) e autor do influente “Minimanual do Guerrilheiro Urbano”. Ele foi morto em 4 de novembro de 1969, durante uma emboscada em São Paulo na Rua Alameda Casa Branca, orquestrada por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e participação do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Sua morte marcou o endurecimento da repressão militar e a perda de uma das vozes mais ativas contra o regime.

Carlos Marighella- Foto: divulgação

Joaquim Alencar de Seixas militante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), Seixas foi capturado pelo regime militar em 1971, após uma operação que resultou na morte do empresário Henning Albert Boilesen. Em 17 de abril daquele ano, ele foi torturado e assassinado pelos militares em São Paulo. Seu corpo foi enterrado como indigente e só foi identificado em 1977, após exumação. Sua história simboliza a brutalidade do Estado repressivo e a luta por justiça e memória.

Joaquim Alencar de Seixas- Foto: divulgação

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Conhecido como “Comandante Toledo” ou ” O velho” , Joaquim Câmara Ferreira foi uma liderança fundamental na ALN após o assassinato de Marighella. Após um período em Cuba, retornou ao Brasil para seguir na luta armada, mas foi preso em 1970 pela equipe de Sérgio Paranhos Fleury e submetido a torturas intensas num centro clandestino que ficou conhecido como “Sítio 31 de março” ou “Sítio do Fleury”, nos arredores de São Paulo Em 23 de outubro daquele ano, morreu sob custódia, vítima da violência estatal. Joaquim Câmara Ferreira foi sepultado por sua família no Cemitério da Consolação, na cidade de São Paulo (SP).

Joaquim Câmara Ferreira- Foto: Divulgação

Mário Alves, fundador do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), foi preso e assassinado em 17 de janeiro de 1970, nas dependências do quartel da Polícia do Exército, no Rio de Janeiro. Sua trajetória política e sua condição de pai denunciam o alto custo pessoal da resistência contra o regime, marcada pela perda e brutalidade.

Mário Alves- Foto: Divulgação

Dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCdoB) e comandante da Guerrilha do Araguaia, Maurício Grabois foi morto em combate no Pará, na região conhecida como Bico do papagaio, em 25 de dezembro de 1973. Seu sacrifício simboliza a entrega total à luta por justiça social e democracia. Até hoje, seu nome inspira ativistas e militantes em todo o país.

Maurício Grabois – Foto: divulgação

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Economista e professor da USP, Norberto Nehring destacou-se como militante político e intelectual comprometido com a luta contra o regime. Ele foi preso e, em 24 de abril de 1970, assassinado em São Paulo. A CNV reconheceu que sua morte foi causada por agentes do Estado, marcando um capítulo sombrio da história da universidade brasileira.

Noberto Nehring- Foto: divulgação

Rubens Paiva deputado federal e engenheiro, tornou-se símbolo da resistência e da crueldade do regime após seu sequestro e desaparecimento em 20 de janeiro de 1971, no Rio de Janeiro. Preso, seu corpo nunca foi encontrado, tornando-se uma das figuras mais emblemáticas das violações cometidas pela ditadura. A CNV concluiu que sua morte foi causada por ação direta do Estado, e sua memória é mantida viva pela luta incessante de familiares e ativistas.

Rubens Paiva- Foto: divulgação

Virgílio Gomes da Silva, conhecido pelo codinome “Jonas”, era operário e militante da resistência armada. Foi um dos militantes que participaram do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Pouco tempo após este acontecimento foi preso e em 29 de setembro de 1969, brutalmente torturado e assassinado em São Paulo. A CNV reconhece que sua morte decorreu das ações repressivas do Estado. Seus restos mortais infelizmente nunca foram encontrados.

Virgílio Gomes da Silva – Foto: divulgação

O legado desses pais para o Brasil

O sacrifício desses homens foram feitos em nome da liberdade, da justiça e do futuro de seus filhos e de nosso país. Mais que militantes, foram pais que enfrentaram a dor da ausência e o medo da violência, deixando um legado que ultrapassa o tempo.

A Comissão Nacional da Verdade e movimentos sociais seguem firmes no compromisso de resgatar essas histórias, responsabilizar os culpados e fortalecer a democracia brasileira. A memória dessas vidas entregues à luta é um farol que nos lembra da importância de preservar os direitos humanos e combater toda forma de autoritarismo.

Que essas histórias se mantenham vivas e inspirem na luta para um Brasil mais justo e livre, onde a voz desses pais jamais se perca no silêncio da história.

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