Neste dia, há 108 anos, na região oeste de Portugal, na Cova da Iria, em Fátima, três crianças— Lúcia, Francisco e Jacinta Marto — testemunharam a primeira de seis aparições de uma “Senhora mais brilhante que o Sol”, que se identificou como Nossa Senhora do Rosário, mais tarde sendo atribuída ao nome Nossa Senhora de Fátima. Essas aparições, ocorridas sempre no dia 13 de cada mês até outubro daquele ano (exceto agosto), trouxeram mensagens de oração, penitência e conversão, e culminaram no chamado “Milagre do Sol”, presenciado por milhares de pessoas. Desde então, o dia 13 de maio tornou-se uma data emblemática para os fiéis, simbolizando esperança e renovação espiritual.

Embora seja amplamente venerada no Brasil, é importante destacar que Nossa Senhora de Fátima não é a padroeira de Portugal, e o dia 13 de maio não é feriado em terras lusitanas. Desde o século XVII, quem ocupa oficialmente esse posto é Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como a “verdadeira rainha de Portugal”.
Curiosamente, essa devoção atravessou o oceano com a colonização e se enraizou nas terras tropicais. No entanto, aqui ela tinha outra identidade: a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a “Aparecida”, que se tornou padroeira do Brasil após sua imagem ser encontrada por pescadores, em 1717, nas águas do rio Paraíba do Sul — em dois pedaços, como um sinal do sagrado que se reconstrói.
Maio, as profecias e os mistérios de Fátima
Segundo a tradição, Nossa Senhora de Fátima revelou três segredos às crianças, mais tarde conhecidos como os “Segredos de Fátima”. Eles abordavam visões do inferno, a Segunda Guerra Mundial e um atentado contra um papa. Curiosamente, a tentativa de assassinato do Papa João Paulo II aconteceu justamente em 13 de maio, no ano de 1981.
Embora o início oficial da guerra tenha sido em 1º de setembro de 1939, muitos dos acontecimentos mais simbólicos do seu desfecho ocorreram em maio de 1945. Entre eles, o Dia da Vitória na Europa (8/5), que marcou a rendição das forças nazistas; a morte de Joseph Goebbels (1/5), ministro da Propaganda e braço direito de Hitler, que também se suicidou no fim de abril — com a confirmação só em 1º de maio; a queda de Berlim (2/5); a rendição incondicional da Alemanha (7/5); e a libertação do campo de concentração de Mauthausen (5/5), onde cerca de 90 mil pessoas morreram.
Pode-se dizer que maio, portanto, não é apenas o mês das flores — é também um tempo em que o céu e o inferno parecem ter sussurrado segredos à humanidade. Em reconhecimento a esses eventos, a Igreja Católica declarou as aparições de Fátima como dignas de fé em 13 de outubro de 1930. Desde então, o Santuário de Fátima tornou-se um dos principais destinos de peregrinação do mundo, atraindo cerca de seis milhões de visitantes anualmente.
Pastorinhos em silêncio: a tentativa de descobrir os segredos
As três crianças a quem Nossa Senhora de Fátima aparecia ficaram conhecidas como os pastorinhos. À medida que os relatos das aparições se espalhavam pela região, chamaram a atenção das autoridades locais. No dia 13 de agosto de 1917, data prevista para a quarta aparição, os pequenos foram levados à força para um interrogatório.
O objetivo era claro: arrancar deles os segredos que, segundo diziam, a Virgem havia revelado. Apesar da pressão, das ameaças e até mesmo de momentos de tortura psicológica, os pastorinhos se mantiveram firmes e em silêncio. Após seis dias detidos, foram libertos e puderam retornar a Fátima, onde a aparição aconteceu como prometido. Décadas depois, em 2017, o Papa Francisco canonizou Francisco e Jacinta Marto, dois dos três irmãos, reconhecendo-os como santos da Igreja Católica.
Devotos ilustres: celebridades e a fé em Nossa Senhora
Além do próprio Papa Francisco, o Papa João Paulo II, após sobreviver ao atentado, atribuiu sua salvação à intervenção dela e colocou a bala do atentado na coroa da imagem da santa. Outras personalidades famosas também já manifestaram sua devoção publicamente, como o ator que interpretou Jesus em “A Paixão de Cristo”, Jim Caviezel. As cantoras Shakira e Celine Dion e o historiador alemão Ludwig Fischer, que se dedicou à divulgação da santa na Alemanha e países vizinhos após visitar Fátima em 1929. Dizem que em 4 anos, ele havia realizado mais de 200 conferências sobre o tema.

Aqui no Brasil não faltam devotos famosos, dois dos mais marcantes são as apresentadoras Ana Maria Braga e Hebe Camargo, ambas recorreram à santa após serem acometidas pelo câncer. O “Rei” Roberto Carlos já levou a imagem ao palco e compôs músicas em sua homenagem. Nosso eterno camisa 9, Ronaldo Fenômeno, atribui sua cura da lesão no joelho, em 2002, a ela. Outros mais como Craque Neto, Renato Aragão, Paula Fernandes, Klara Castanho e Elba Ramalho. Temos até a banda “Devotos de Nossa Senhora Aparecida”, fundada em 1986 por Luiz Thunderbird.
A luz que segue acesa
Mais de cem anos depois, a devoção a Nossa Senhora de Fátima continua viva em milhões de fiéis ao redor do mundo. Suas mensagens de oração, conversão e paz seguem atravessando gerações, reforçando o poder da fé mesmo diante da dor, da dúvida ou do silêncio.
O 13 de maio não é apenas uma data no calendário católico, também pode ser considerado um lembrete de que o sagrado pode se revelar nos lugares mais improváveis — a uma criança, num campo aberto, sob o sol — e tocar milhões. Uma história que começou com três pastorinhos e que, até hoje, ilumina corações pelo mundo inteiro.