O maestro João Carlos Martins, um dos maiores nomes da música clássica brasileira, decidiu mudar o compasso de sua vida. Conhecido mundialmente por sua interpretação de Bach e por uma trajetória marcada por superações, Martins agora reduz o ritmo de apresentações para dedicar-se integralmente à educação musical. Seu novo propósito é claro: tornar realidade o sonho de Heitor Villa-Lobos, de ver a música acessível a todos os brasileiros, principalmente os mais jovens e socialmente excluídos.
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“Quero realizar o sonho de Villa-Lobos”, declarou o maestro em entrevista recente, reforçando seu desejo de democratizar a arte musical e alcançar as periferias com educação e instrumentos de transformação.
Desde 2019, Martins está à frente do projeto Orquestrando o Brasil, que já reúne mais de 350 grupos musicais em mais de 250 municípios do país. A iniciativa oferece apoio pedagógico, instrumentos e capacitação técnica a jovens músicos e professores, promovendo a criação de orquestras e grupos musicais em regiões com pouco ou nenhum acesso à cultura. Com a decisão de desacelerar sua agenda de concertos, Martins planeja ampliar o projeto, criando centros permanentes de ensino musical.
“Quero que esses jovens não apenas toquem, mas também sonhem. Quero que a música transforme a realidade deles, como transformou a minha”, afirmou.
Uma vida de superações e reinvenções
João Carlos Martins iniciou sua carreira como pianista, ganhando prestígio internacional como um dos maiores intérpretes de Johann Sebastian Bach. No entanto, problemas neurológicos e acidentes afetaram suas mãos, interrompendo precocemente sua atuação como pianista. Mas a música falou mais alto. Com luvas biônicas e muita força de vontade, reinventou-se como maestro e seguiu encantando plateias no Brasil e no mundo. Sua história de superação virou filme, documentários, livros e serve de inspiração para músicos, educadores e para a população no geral. Hoje, ele vê no ensino musical sua missão mais importante:
“O brilho nos olhos de uma criança que descobre a música vale mais do que qualquer aplauso”, disse emocionado.
Um novo palco, um novo legado
Heitor Villa-Lobos, um dos maiores compositores da história do Brasil, defendia a música como base da formação educacional. Durante o governo de Getúlio Vargas, coordenou projetos de ensino musical nas escolas públicas, que, com o tempo, foram sendo abandonados. Martins quer resgatar esse ideal e perpetuar esse legado através de ações concretas.
“Não quero que me vejam apenas como o maestro dos palcos. Quero ser lembrado como alguém que acreditou na música como um direito de todos”, disse. E completou: “Villa-Lobos abriu o caminho. Eu só estou tentando continuar a trilha.”
Mais do que uma decisão de vida, a nova jornada do maestro é um gesto político e poético: ao levar música às periferias, João Carlos Martins desafia desigualdades históricas e mostra que a arte, quando acessível, é uma das formas mais potentes de liberdade. Modificando essa rota dos grandes palcos pelas salas de aula e projetos comunitários, Martins ensina que o maior espetáculo acontece quando uma criança descobre sua voz, sua sensibilidade e sua capacidade de sonhar.
E ao realizar o sonho de Villa-Lobos, o maestro esteja também criando o palco onde nascerão os músicos do futuro artistas forjados não apenas na técnica, mas na esperança.
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