30 de novembro: Antonio Carlos Bicalho Lana e Sônia Maria Lopes de Moraes se fazem presentes, 52 anos depois

Cinco décadas depois de terem sido mortos pela repressão da ditadura militar brasileira, Antonio Carlos Bicalho Lana e Sônia Maria Lopes de Moraes seguem presentes não apenas na memória das famílias, mas na luta por justiça, verdade e reparação que ainda mobiliza o país.

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Neste 30 de novembro, data que marca os 52 anos de suas mortes, seus nomes ecoam como lembrete de que o passado não está encerrado: ele segue pedindo respostas.

De acordo com a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) e o acervo Memórias Reveladas, Lana e Sônia foram mortos em 30 de novembro de 1973, após terem sido presos clandestinamente, torturados e executados por agentes da ditadura.

Antonio Carlos Bicalho Lana

Nascido em 2 de março de 1949, em Ouro Preto (MG), Lana foi militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e atuou intensamente no movimento estudantil. A Comissão da Verdade registra que ele recebeu treinamento de guerrilha no exterior, em Cuba, antes de retornar ao Brasil para retomar a militância clandestina.

As investigações oficiais apontam que ele e Sônia foram detidos quando viajavam de ônibus para São Paulo, vigiados havia dias por agentes infiltrados. A versão da ditadura afirmou que Lana morreu em “tiroteio” ao resistir à prisão.

No entanto, a CEMDP, no processo 093/96, concluiu que houve prisão ilegal, tortura e execução, seguida de ocultação de cadáver. Seu corpo foi enterrado como indigente e só identificado em 1991, quando foi trasladado para Ouro Preto.

Sônia Maria Lopes de Moraes

Nascida em 9 de novembro de 1946, no Rio Grande do Sul, Sônia também integrava a ALN. Segundo a Comissão da Verdade de SP, ela havia sido presa em 1969 por militância política, absolvida, perseguida e forçada à clandestinidade. Mesmo após passagem pelo exílio, retornou ao Brasil para continuar a luta. Documentos da CEMDP e do acervo Memórias Reveladas relatam que a prisão de Sônia ocorreu junto com a de Lana, na manhã em que os dois deixavam São Vicente rumo à capital.

A narrativa oficial divulgada pelos órgãos de repressão dizia que a militante “morreu em confronto”. Contudo, as investigações posteriores provaram que Sônia foi torturada e executada, sendo enterrada com nome falso como indigente no Cemitério Dom Bosco, em Perus. Sua família passou anos sem acesso a informações reais sobre o paradeiro de seu corpo.

Ambos figuram na lista oficial de mortos e desaparecidos políticos, com responsabilidade expressa do Estado brasileiro por suas mortes.

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O luto de Sônia e Lana nunca foi imediato. Sem corpo, sem verdade, sem explicações, suas famílias enfrentaram décadas de buscas, pedidos de acesso a documentos, confrontos com órgãos estatais e o silêncio institucional.

Entre cartas, requerimentos, investigações independentes e pressões públicas, construíram não apenas uma luta por seus parentes, mas por todos os desaparecidos políticos.

É graças a essas famílias, amigos e às comissões que nasceram da mobilização da sociedade civil que hoje sabemos como morreram, onde foram enterrados e quais mentiras foram contadas sobre eles.

Em 2025, depois de anos de pressão e trabalho técnico de instituições como o Ministério dos Direitos Humanos, familiares e pesquisadores conquistaram importantes vitórias.

A certidão de óbito de Antonio Carlos Bicalho Lana foi finalmente retificada e entregue em agosto de 2025, corrigindo a versão fraudulenta produzida pelos órgãos militares.

Já a certidão de Sônia Maria Lopes de Moraes foi entregue em 8 de outubro, também com a devida retificação sobre as circunstâncias reais de sua morte.

O dia 8 de outubro de 2025 marcou ainda um episódio histórico para o país: mais de 100 certidões de óbito de mortos e desaparecidos políticos foram retificadas oficialmente, reconhecendo assassinatos cometidos pelo Estado e retirando das famílias décadas de incerteza, mentira e violência documental.

A entrega dessas certidões não devolve o que foi tirado, mas estabelece, no registro civil e na memória pública, a verdade que a ditadura tentou apagar. Cinquenta e dois anos depois, Antonio e Sônia seguem presentes para lembrar que o Brasil não pode, e não deve, esquecer.

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