A notícia de que a Islândia é o país com mais escritores per capita não é novidade para ninguém. Com alto desenvolvimento e um sistema educacional avançado, a literatura é fomentada entre os islandeses desde os primeiros anos escolares. Os livros sempre foram pilares da identidade nacional islandesa, são considerados presentes muito comuns e altamente valorizados.
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A trajetória até esse reconhecimento envolve um conjunto de fatores que se combinam entre si. As sagas islandesas são fundamentais e preservam uma tradição bastante única: histórias sobre a Idade Média na Europa (séculos XII–XIV) que são conservadas e lidas até hoje. Elas narram feitos de vikings, heróis e famílias históricas.
Outro fator muito interessante é a cultura do Jólabókaflóð, que significa, literalmente, “inundação de livros do Natal”. Nessa época do ano, é comum que as famílias se reúnam para trocar livros como presentes. A tradição começou durante a Segunda Guerra Mundial. Com severas restrições à importação de bens, o papel era um dos poucos recursos disponíveis e viáveis. Em 1944, o governo lançou o primeiro catálogo nacional de lançamentos literários e o enviou para todas as casas do país — marcando o início da tradição.
Atualmente, a literatura islandesa saiu de sua bolha e chegou até o Brasil. Um ponto de virada foi o Prêmio Nobel de Literatura concedido a Halldór Laxness (1902–1998), em 1955, por sua “vívida força épica, que renovou a grande arte narrativa da Islândia”.

Outro fator essencial é a tradução ativa. Sem o trabalho dos tradutores, o acesso dos brasileiros à literatura islandesa seria praticamente impossível. A tradução aproxima obras clássicas, como Os Peixes Também Sabem Cantar, do público nacional. A escolha dos autores traduzidos também influencia a recepção: Laxness apresenta uma Islândia mais clássica, enquanto Auður Ava Ólafsdóttir e Sjón revelam um país mais contemporâneo e fantástico.
Em entrevista ao Estadão, os tradutores Francesca Cricelli e Luciano Dutra explicam que, apesar das diferenças gritantes entre os países, as histórias islandesas conseguem dialogar com a realidade brasileira.
Apesar do cenário subpolar e do idioma pouco familiar, a história se aproxima da realidade brasileira à medida que aborda as transformações econômicas e sociais pelas quais a Islândia passou e ainda passa.

A valorização dos tradutores também desperta maior interesse do público. Cada vez mais, editoras têm aproximado os leitores do universo da tradução literária, o que cria uma conexão mais profunda e traz visibilidade a um trabalho que, por muito tempo, foi esquecido.
Um comentário
Uma aula de história, gostei bastante.