Festival de arte explora ‘alucinações’ da inteligência artificial em mais de 90 obras em São Paulo

Até o dia 7 de setembro, o Centro Cultural Fiesp, na Avenida Paulista, abriga um universo onde os “erros” da inteligência artificial viram matéria-prima para a arte. Com entrada gratuita, a exposição Synthetika: a era da criatividade artificial é o grande destaque do FILE 2025 — Festival Internacional de Linguagem Eletrônica — e convida o público a mergulhar nas chamadas “alucinações” de sistemas inteligentes.

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Essas alucinações, como são conhecidas as respostas e imagens imprecisas que algoritmos de IA produzem ao extrapolar seus próprios limites, deixam de ser falhas técnicas para se tornarem o ponto de partida da criação artística. Com curadoria de Ricardo Barreto, Paula Perissinotto e Clarissa Vidotto, a mostra propõe uma mudança de paradigma: a IA não apenas como ferramenta, mas como parceira de invenção.

Ao todo, são 93 obras em exibição, criadas por artistas e pesquisadores de aproximadamente 30 países, entre eles Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Irã, Argentina, Chile, Japão e China. O Brasil marca presença com 16 artistas, cujos trabalhos dialogam com natureza, som, vigilância e presença digital. A diversidade de formatos também impressiona: há instalações, vídeos, esculturas digitais, animações, jogos eletrônicos, ambientes interativos e experiências imersivas — todos desenvolvidos com auxílio de inteligência artificial.

Entre os trabalhos brasileiros, destaca-se Aquarela de íons, de Arthur Boeira e Gustavo Milward. A instalação capta dados espaciais, como explosões solares e ciclos magnéticos, e os converte em luzes, sons e imagens, criando um ambiente sensível que reage à presença do visitante. Em Ouvir, o artista Craca apresenta pássaros artificiais que cantam em resposta às vozes do público. A obra utiliza um sistema de IA programado do zero, permitindo que essas criaturas digitais desenvolvam melodias únicas a partir da interação com os visitantes.

Arte e IA - Foto: Divulgação/FILE 2025
Foto: Divulgação/FILE 2025

Já o curta-metragem Are you observing or being observed?, assinado por Vitória Cribb, explora a tensão entre corpos digitais e vigilância constante. Através de CGI e áudio original, a artista projeta o incômodo de estar sob observação em redes e sistemas online, e dá forma a uma entidade invisível que acompanha, em silêncio, cada gesto conectado.

A produção internacional também traz destaques provocativos. Em ReCollection, os chineses Weidi Zhang e Rodger Luo propõem uma IA que escuta histórias contadas por visitantes ao microfone e, em tempo real, gera imagens visuais a partir dessas memórias. A obra leva o público a refletir sobre como a tecnologia pode reimaginar — e talvez distorcer — a construção da memória. Na instalação Unreal pareidolia, o japonês Scott Allen utiliza sombras de brinquedos e objetos comuns para alimentar um sistema que interpreta as formas e produz imagens e legendas associativas. O resultado é uma espécie de Inteligência Artificial baseada em padrões do cotidiano.

Fora do prédio, a arte continua. Diariamente, das 19h às 6h, a fachada do Centro Cultural Fiesp se transforma em uma galeria digital, exibindo criações de artistas nacionais e internacionais, além de obras desenvolvidas em colaboração por alunos da Universidade de São Paulo (USP) e do Istituto Europeo di Design (IED), em São Paulo.

Synthetika convida o público a habitar esse novo terreno da produção artística, onde os limites entre máquina e criador se embaralham. Ao transformar falhas em potência criativa, a mostra oferece não apenas uma experiência tecnológica, mas uma visão do futuro da arte — imprevisível, híbrida e profundamente conectada.

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