Durante uma palestra no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), em Minas Gerais, a escritora Camila Panizzi Luz direcionou fala polêmica à literatura marginal, associando-a à criminalidade. No dia 29 de abril, Camila e sua mãe, Ivana Panizzi, participavam da mesa “Raízes e Asas: Literatura e Artes Sem Fronteiras – O Encontro de Mãe e Filha na Terra Natal”, quando chamou ao palco o autor Wesley Barbosa para participar do painel e apresentar o seu livro.
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Wesley é integrante do Coletivo Neomarginais, que possui um estande ao lado do palco, e participa do Flipoços como editor, vendendo as obras de sua editora, a Barraco Editorial. Enquanto se apresentava, o autor foi interrompido por Camila, que perguntou como fazia para ser uma neomarginal. Ao ser respondida por ele que bastava ser ela mesma, continuou:
Camila: Aí, ‘cês querem ser minha editora ou gráfica? Eu quero ser uma neomarginal, gente. Olha que tudo, Camila Luz neomarginal. Nunca fui presa, mas agora eu sou da sociedade, né?
O Movimento Neomarginal tem como inspiração o movimento sociocultural Poesia Marginal, que atingiu a música, teatro, cinema, as artes plásticas e, especialmente, a literatura brasileira como um todo. O movimento surgiu na década de 70 e ficou conhecido como “Geração Mimeógrafo” por sua produção independente e, consequentemente, o uso do mimeógrafo, equipamento manual que utiliza papel carbono e álcool, para fazer cópias das poesias. As principais características são a liberdade formal e a ironia, seus autores abordavam temáticas cotidianas e faziam uso da linguagem coloquial.
Ao se qualificar como resistência cultural, o movimento ficou marcado por buscar a desconstrução do mercado literário tradicional, dando voz e autonomia para autores independentes e marginalizados da sociedade. Logo, associá-lo à criminalidade é de cunho, minimamente, preconceituoso.
A organização do festival tomou como medida a exclusão da escritora Camila Panizzi Luz das atividades do evento, assim como a retirada de seus livros dos estandes de venda. Em nota de apoio ao autor Wesley Barbosa e o Movimento Neomarginal, a Flipoços se pronunciou:
“O Flipoços 2025 repudia veemente qualquer ato de racismo, discriminação ou preconceito. Nosso evento tem como pilares a diversidade, a inclusão e a valorização de todas as vozes, especialmente aquelas que foram historicamente silenciadas.”
“(…) o Flipoços decidiu romper vínculos entre a autora e a programação, retirar seus livros da Feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada nesta e em outras realizações do festival.(…)”
Wesley Barbosa, por sua vez, deu entrevistas falando o quanto se sentiu ofendido e expressou seu descontentamento. Além de ter promovido uma mesa de debate no Festival Literário Internacional de Poços, na noite deste último sábado (3), onde reuniu outros escritores para abordar a literatura como ferramenta de revolução. Finalizando com um sarau, que agradou os visitantes.
A produção de Camila Panizzi Luz soltou nota em que reconhece fala preconceituosa e declara que a autora foi mal interpretada, além de acentuar que ela possui conhecimento de seus privilégios. “Lamentamos profundamente se alguém se sentiu ofendido”.