Ed Sheeran está de volta com Play, seu novo álbum de estúdio, lançado em um momento simbólico de sua carreira. Já se passaram 20 anos desde o primeiro disco independente e 14 desde a assinatura com uma grande gravadora — tempo suficiente para que novos artistas, como Myles Smith, comecem a citá-lo como influência.
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Ao longo dessas duas décadas, Sheeran construiu um império musical baseado em algo que pode ser descrito como confiabilidade: independentemente dos colaboradores — que já variaram de Pharrell Williams a Eminem e Aaron Dessner —, suas músicas sempre soam essencialmente como “Ed Sheeran”. Para os fãs, isso é prova de identidade artística; para os críticos, limitação criativa.
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Play parece dialogar com essas duas visões. O álbum foi finalizado em Goa, na Índia, e traz influências locais perceptíveis em faixas como Heaven, que utiliza percussão tradicional, e Sapphire, com participação do astro bengali Arijit Singh. Há trechos em hindi e punjabi espalhados pelo disco, mas nada chega a descaracterizar o DNA pop de Sheeran.
Curiosamente, alguns dos destaques surgem em canções produzidas mais perto de casa. Don’t Look Down, em parceria com Fred Again, mergulha em sintetizadores e batidas de house, enquanto Symmetry abre com percussão indiana, mas logo evolui para atmosferas eletrônicas sombrias. Não é uma reinvenção radical, mas mostra o cantor testando novas fronteiras.
O grande choque, no entanto, vem na faixa A Little More. Pela primeira vez, Sheeran soa genuinamente furioso, disparando versos como “I hate you … I never want to see you again” em meio a arranjos de piano elétrico e metais que remetem ao soul britânico pós-Amy Winehouse. Essa raiva explícita destoa do registro habitual entre o melancólico e o apaixonado — e funciona como uma das passagens mais impactantes do disco.
Entre referências a amizades rompidas, parasitas emocionais e um amor que beira a obsessão em Slowly, um tom sombrio percorre boa parte de Play. Ainda assim, trata-se de um álbum que mantém o apelo comercial de Sheeran intacto: os singles já acumulam números astronômicos nas plataformas de streaming.
No fim, Play entrega exatamente o que se espera de Ed Sheeran, mas não sem surpresas pelo caminho. É um trabalho sólido, com faíscas de ousadia e um inesperado peso emocional, que reforça a posição do britânico como um dos artistas mais estáveis — e, ao mesmo tempo, mais questionados — da música pop contemporânea.