Ana Maria Gonçalves faz história como primeira mulher negra eleita para a ABL

Nesta quinta-feira (10), a Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu a escritora Ana Maria Gonçalves, de 55 anos, como a primeira mulher negra a integrar o seleto grupo de 40 cadeiras, no comando da instituição desde 1897. Em reconfortante vitória, ela obteve 30 votos dos 31 possíveis, superando 13 concorrentes, incluindo a escritora indígena Eliane Potiguara, que recebeu apenas um voto.

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A vaga recém-deixada pelo filólogo Evanildo Bechara, que ocupava a cadeira 33, será agora preenchida por Ana Maria, que já é reconhecida como uma das vozes mais importantes da literatura contemporânea. Autora do romance Um Defeito de Cor, obra que acompanha a trajetória de Kehinde, inspirada em Luísa Mahin, do sequestro na África ao Brasil escravocrata, Gonçalves consegue mesclar história, ancestralidade e resistência. O livro, premiado em Cuba, é considerado o melhor romance brasileiro do século 21, vendeu cerca de 180 mil cópias e foi tema do desfile da Portela em 2024.

O impacto de sua eleição vai muito além da literatura. Ao romper o racismo estrutural da ABL, ela também responde a uma lacuna histórica de representatividade. Em 128 anos, apenas 12 mulheres haviam sido eleitas, e nenhuma delas negra. Ana Maria, que será a 13ª mulher imortal, destaca-se como uma referência não apenas no campo literário, mas na construção de uma nova memória cultural brasileira.

Em uma eleição histórica, a escritora Ana Maria Gonçalves se tornou, nesta quinta-feira (10), a primeira mulher negra a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL) - Foto: Reprodução/Alexandre Cassiano
Em uma eleição histórica, a escritora Ana Maria Gonçalves se tornou, nesta quinta-feira (10), a primeira mulher negra a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL) – Foto: Reprodução/Alexandre Cassiano

Acadêmicos e autoridades celebraram a escolha. O presidente da ABL, Merval Pereira, declarou que sua chegada representa o esforço da instituição por uma cultura mais plural. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também aplaudiu, ressaltando a escrita “impecável” de Ana Maria e as bandeiras que ela carrega. Escritores como Lilia Schwarcz, Rosiska Darcy, e até o cantor Gilberto Gil, expressaram entusiasmo e ressaltaram o simbolismo da conquista.

Ana Maria Gonçalves traz uma trajetória profissional marcada por engajamento: já foi professora visitante em universidades como Tulane, Stanford e Middlebury. Além disso, ela atua publicamente sobre questões raciais, culturais e políticas, como colunista no The Intercept Brasil, e foi condecorada com a Ordem de Rio Branco em 2013.

Sua eleição é vista por estudiosos da cultura como um marco para a democratização da ABL, transformando-a num espaço que começa a refletir verdadeiramente a diversidade do Brasil. Ainda que haja ceticismo aliado à cautela, especialmente sobre se essa mudança será duradoura, a entrada de Ana Maria é amplamente celebrada como um avanço real e significativo.

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