A vida comum de vozes que cantam

A música, em um contexto geral, surgiu antes da história escrita. As primeiras manifestações musicais provavelmente envolviam vocalizações e sons produzidos com objetos encontrados na natureza, como ossos e pedras. Atualmente, é uma das inúmeras formas de expressão existentes.

Em mais um dos temas voltados à população periférica, dois artistas locais foram entrevistados e deram sua visão sobre invisibilidade, cotidiano e arte.

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Kratos Mc e Fezinho, ambos da zona leste de São Paulo, são dois artistas que encontraram na música um propósito.

“Eu sempre estive filiado ao lado artístico. Acho que desde pequeno eu gostava de cantar, já fiz peça em escola. Não sei como cheguei na parte de fazer música, mas as coisas sempre foram trilhando para isso.”
– Kratos Mc

“Eu comecei a fazer música desde criança, Peguei muita referência de outros MCs Peguei vontade vendo os outros, a forma como eles faziam vídeoclipes, eu me imaginava na cena.”
– Fezinho

Apesar do contato com a música desde cedo, os dois cantores apontaram que começaram a desenvolver a comunicação se apresentando para pessoas próximas, como familiares e amigos. Um ponto essencial na trajetória de ambos foi o apoio, que teve grande importância para que o sonho ganhasse força.

Infelizmente, essa não é a realidade da maioria dos artistas que muitas vezes nem chegam a ser conhecidos. Não é raro vermos em entrevistas nomes já consolidados contando que, no início, o desejo de seguir na música era visto com desconfiança, diante da cobrança por um emprego fixo que garantisse o sustento mensal.

O lado artístico e a correria da vida caminham juntos. Kratos aponta que o planejamento é algo que atrapalha: organizar o trabalho formal com a responsabilidade de compor, gravar e produzir seria sua maior dificuldade. Fezinho, com uma rotina mais tranquila, diz que é entre um descanso e outro que as composições vão ganhando forma. Outra dificuldade apontada é o surgimento de ideias para escrever.

“As vezes quando eu quero fazer uma música, eu quero achar uma ideia, não só fazer. As vezes eu demoro mó cota para fazer uma música, para ser sincero”
– Fezinho

O trecho acima mostra a responsabilidade que os artistas têm com suas letras. Algo que foi mencionado é a influência que as canções exercem em quem escuta. A mensagem que se quer transmitir é importante, pois reflete na vida de todos. A música está em todo lugar atualmente. A pergunta provocativa da vez foi sobre a invisibilidade que os artistas locais enfrentam apenas por serem da periferia, e as duas visões, embora abordem lados distintos, geram reflexões.

“Eu acho que quem tem menos contatos e menos acesso, e quem não tem um padrinho ou alguém investindo na carreira, com certeza vai ter mais dificuldade para virar. Mas não acho que impede, porque se ele está estourado, acaba abrindo mais portas.”
– Kratos Mc

“É questão de gosto. O funk, querendo ou não, tem gente que tem um baita preconceito. Fala que é coisa de maloqueiro, coisa de nóia. Tem muita gente, que às vezes, repara muito no mensageiro. Mas não ouve a mensagem que ele quer passar”
– Fezinho

As mídias sociais são um grande impulsionamento para quem quer alavancar a carreira.

“Antigamente era muito mais trabalhoso você do nada dar um boom na sua carreira. Hoje em dia, com as mídias, se torna muito mais fácil. Ás vezes tem artista que estoura uma música no Tik Tok, e cresce a partir daí”
– Kratos Mc

Na matéria “A cena do rap e hip-hop local como expressão cultural e identidade”, um dos temas abordados foi a estratégia de ter que rimar o que o público quer ouvir para conseguir crescer. Na cena musical, isso também se aplica.

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“Que nem música de tik tok, do instagram também. É música de momento, música de story, que é meio explícita. O pessoal, eles trabalham conforme o mercado, eles trabalham o que está pegando. Para depois que eles pegarem uma mídia, e começar a passar uma música daora.”
– Fezinho

Muitas vezes, é preciso primeiro se encaixar no que o mercado espera, para só depois mostrar com mais liberdade o que realmente se quer dizer.

Kratos MC e Fezinho não falam sobre grandes planos com pressa, mas deixam claro que querem seguir fazendo música. Com rotinas e ritmos diferentes, os dois ainda estão construindo seus caminhos. Testando sons, entendendo o público e buscando formas de crescer dentro do que acreditam.

Entre rimas feitas no tempo livre, ideias que demoram a nascer e uma rotina que muitas vezes aperta, Kratos MC e Fezinho seguem firmes. A música, para eles, não é só uma escolha, é parte de quem são. Mesmo sem grandes estruturas ou visibilidade garantida, eles continuam criando, acreditando e compartilhando com quem está por perto.

Em um cenário onde tantos artistas ficam pelo caminho, ouvir o que eles têm a dizer é também um convite: que outros olhares se voltem para onde sempre existiu talento, mas quase nunca teve espaço.

Siga os artistas no Instagram:

@fezinhooo | @kratos.nk

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4 Comentários

  • Muito importante dar visibilidade para artistas periféricos e ainda mais interpretar cada palavra de uma música que cada artista escreve. Interpretar as coisas que é vividas e abrir a mente para o novo!!

    Matéria excelente, Parabéns!!!

  • Essa matéria é um soco de realidade e um abraço de representatividade ao mesmo tempo. É impressionante como mostra com verdade o peso de sonhar na periferia e a força de quem transforma dor em arte, tanto Kratos MC quanto Fezinho são mais que vozes, são resistência viva. E quando a imprensa dá espaço pra isso, ela cumpre um papel raro: o de eternizar o que é real.

    Meus parabéns à autora da matéria por dar voz a quem precisa ser ouvido. 👏🏻

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