Aurora Maria do Nascimento Furtado, estudante de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), foi assassinada em 10 de novembro de 1972, aos 26 anos, após ser brutalmente torturada pela repressão da ditadura militar.
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Aurora nasceu em São Paulo, em 17 de junho de 1946, e cresceu em meio a um país que fervilhava entre esperanças e autoritarismo. Inteligente, sensível e firme em suas convicções, ingressou na USP com o desejo de compreender o ser humano e transformar a realidade social.
No ambiente universitário, envolveu-se com o movimento estudantil e se destacou pela liderança e pela coragem diante do avanço da censura e da violência estatal.A jovem atuou na União Estadual dos Estudantes (UEE/SP) e participou da Dissidência Universitária do PCB, movimentos que buscavam resistir à repressão política e defender as liberdades civis.
Com o endurecimento do regime após o AI-5, em 1968, Aurora optou pela clandestinidade e passou a integrar a ALN organização liderada por Carlos Marighella atuando principalmente na área de comunicação do grupo. Nesse período, conheceu e se apaixonou por José Roberto Arantes de Almeida, também militante da ALN, que seria morto pela repressão meses antes dela.
Aurora e José Roberto compartilhavam não apenas o amor, mas também o compromisso político e a esperança de uma sociedade mais justa. Após a morte dele, Aurora seguiu resistindo, mesmo sabendo que a repressão havia se intensificado e que seu destino poderia ser o mesmo.
Na madrugada de 9 de novembro de 1972, ela foi presa viva no Rio de Janeiro por agentes do DOI-CODI e levada para um dos centros de tortura do regime.Relatos e laudos periciais indicam que Aurora foi submetida a choques elétricos, pau-de-arara e a uma das mais cruéis formas de tortura usadas pelos militares: a “coroa de Cristo”, em que uma cinta de metal era colocada em volta da cabeça e apertada até esmagar o crânio. Após horas de tortura, Aurora morreu.
Seu corpo foi baleado 29 vezes para simular um confronto armado e, em seguida, abandonado em uma rua do Méier, no Rio de Janeiro uma farsa que a história e a memória se encarregaram de desmentir.Décadas depois, a Comissão Nacional da Verdade e o Memorial da Resistência de São Paulo reconheceram oficialmente que Aurora foi assassinada sob tortura, devolvendo-lhe a dignidade que o Estado tentou apagar.
Em recentemente, a USP concedeu-lhe o diploma póstumo de psicóloga, em uma cerimônia simbólica de reparação e homenagem à sua trajetória interrompida.Aurora Maria do Nascimento Furtado permanece viva na memória de quem luta pela verdade, pela justiça e pela democracia. Seu nome ecoa entre aqueles que acreditam que recordar é resistir e que nenhuma ditadura, por mais violenta que seja, pode sepultar o poder da memória.









