O dia 30 de agosto, reconhecido pela ONU como o Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimento Forçado, é uma data marcada pela luta contra o silêncio e a impunidade.
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No Brasil, a lembrança se ancora em duas realidades que dialogam entre si: os desaparecidos políticos da ditadura militar (1964–1985) e os milhares de jovens que continuam sumindo todos os anos, em sua maioria negros e moradores das periferias.
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Durante os anos de repressão, o desaparecimento foi usado como estratégia de Estado para silenciar opositores. Segundo a Comissão Nacional da Verdade (2014), 434 pessoas foram mortas ou desapareceram em ações relacionadas à ditadura.
Entre os casos mais emblemáticos estão os mais de 70 militantes da Guerrilha do Araguaia, mortos entre 1972 e 1974 em operações militares na região que abrange Pará, Maranhão e Tocantins. Até hoje, a maioria dos corpos não foi localizada.

Outros nomes permanecem como símbolos desse apagamento: o estudante Stuart Angel, morto sob tortura em 1971, cujo corpo jamais foi entregue à família; e a professora da USP Ana Rosa Kucinski, sequestrada em 1974 junto com o marido, Wilson Silva, ambos até hoje desaparecidos.
Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil pela falta de investigação e punição sobre os crimes da Guerrilha do Araguaia, “Caso Gomes Lund ” determinando a abertura de arquivos e responsabilização dos envolvidos. Quase 15 anos depois, as famílias ainda aguardam respostas.
Se na ditadura os desaparecimentos eram motivados pela perseguição política, hoje o Brasil enfrenta um quadro igualmente alarmante, embora em outro contexto. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2024), mais de 80 mil pessoas desaparecem por ano no país. A maior parte são jovens, de 15 a 29 anos, e negros.
Para especialistas, a ausência de investigações rápidas e a subnotificação dos casos criam um cenário de impunidade semelhante ao do passado.
Seja na década de 1970 ou em 2025, são as mães que transformam a ausência em resistência. Assim como Zuzu Angel denunciou ao mundo o desaparecimento do filho Stuart, hoje coletivos como as Mães de Maio, em São Paulo, ou as Mães da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, buscam por justiça e visibilidade para seus filhos desaparecidos em ações policiais e episódios de violência urbana.

Para organizações de direitos humanos, enfrentar o problema passa por dois caminhos: abrir os arquivos da ditadura e responsabilizar os agentes do passado, e criar políticas públicas eficazes para localizar e proteger os jovens de hoje. Mais de cinco décadas separam o Araguaia das periferias, mas a pergunta que ecoa continua a mesma: