CPI das Bets: Brasil, não mostre sua cara!!!

O depoimento de Virgínia Fonseca e Rico Melquiades na CPI das Bets foi tratado como um grande evento midiático — com direito a transmissão ao vivo, cortes circulando nas redes sociais e uma estética mais próxima de reality show do que de investigação parlamentar. Outras 18 personalidades da internet também estão na mira da comissão. Algumas foram convocadas como investigadas (com presença facultativa), outras como testemunhas (com obrigação de comparecer).

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O objetivo declarado é entender a influência de celebridades na divulgação de sites de apostas. O objetivo real? Capitalizar visibilidade, gerar manchetes e alimentar a indignação pública com personagens já conhecidos do grande público. A preocupação legítima com o vício em jogos, os impactos sociais ou o descontrole regulatório passa longe das discussões centrais. Bom, pelo menos em nenhum momento me pareceu ser o foco durante a semana — afinal, investigar o rombo bilionário do INSS, expor as falhas estruturais do sistema e responsabilizar servidores corruptos não rende manchete chamativa, não viraliza no TikTok e, principalmente, não dá palanque para político lacrar em cima de influenciador famoso.

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Soraya Trending: não é a Virgínia, mas soube aproveitar!!!

Vou dedicar um espaço para falar sobre o quão inteligente foi a postura de Virgínia ao lidar com a CPI, mas antes é preciso destacar a senadora Soraya Thronicke, que conseguiu algo raro para figuras políticas em comissões parlamentares de inquérito: viralizar. Com uma média de 80 pontos no Google Trends durante a semana — um número altíssimo considerando a volatilidade das buscas —, seu nome ultrapassou a bolha política e caiu na boca (e nas timelines) do povo. O motivo? Seu desempenho enérgico, recheado de frases de efeito, confrontos com influenciadores e momentos perfeitos para recortes de vídeos.

O resultado é uma projeção de imagem poderosa. Em tempos de engajamento digital ser moeda eleitoral, cada pico de interesse pode se converter em capital político. Soraya surfou bem essa onda: ganhou visibilidade nacional, renovou sua presença nas redes e se reposicionou como uma parlamentar “combativa”, capaz de dialogar com o público jovem e com eleitores fora do eixo tradicional. Se a CPI das Bets esclarecerá algo relevante para o país, ainda é cedo para dizer. Mas para Soraya, o saldo já é positivo — e bastante rentável em termos de popularidade.

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Virgínia: a influenciadora que sobrevive ao escândalo

Agora vamos falar da estrela da semana, Virgínia Fonseca, mesmo com a perda de seguidores recente, continua sendo uma potência nas redes, com mais de 50 milhões de fãs. Sua audiência sabe que ela divulga casas de apostas — ela nunca escondeu. Logo, o que poderia ser um escândalo moralizado se transformou em mais um capítulo previsível de uma relação pública já conhecida.

Foto: Andressa Anholete/Agência Senado

Não houve “queda de imagem” ou comoção real. A base que a consome segue ali, comprando produtos e engajando com seus conteúdos. A CPI, nesse caso, não revelou nada novo — apenas reforçou o que todo mundo já sabia: que o marketing digital, assim como a política, vive de narrativas bem construídas e contratos bem pagos. E ela sabe como ninguém fazer isso!

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O teatro da indignação seletiva

A CPI das Bets revela uma tendência crescente da política brasileira: transformar qualquer tema popular em palco para performance. Com poucos dados concretos, sem um diagnóstico técnico claro sobre a indústria de apostas e seus efeitos econômicos e sociais, a comissão se esforça mais em lacrar do que em legislar.

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A escolha de influenciadores como foco principal escancara uma indignação seletiva. Em vez de questionar a omissão do Estado na regulamentação do setor, preferem mirar quem teve a ousadia de lucrar com o caos — mesmo que de forma lícita. Afinal, bater em famoso dá mais audiência do que enfrentar os grandes operadores internacionais do jogo online, que seguem funcionando livremente e quase sem fiscalização.

Foto: Divulgação

Enquanto isso, no mundo real: o rombo do INSS segue intacto

Enquanto a CPI transforma feed de rede social em arena parlamentar, o país assiste — ou melhor, ignora — um escândalo de proporções muito maiores: o esquema bilionário de corrupção no INSS. Fraudes em aposentadorias, pensões e auxílios, com participação de servidores públicos e quadrilhas organizadas, estão drenando recursos de um sistema já pressionado — e ninguém está gritando por isso no Congresso.

A diferença? O INSS não dá engajamento. Não tem corte viral, nem celebridade envolvida. A corrupção estrutural do Estado, que afeta diretamente a vida de milhões de brasileiros, simplesmente não é “instagramável”. Por isso, segue convenientemente abafada, escondida sob o tapete da CPI pop.

Foto: Rodolfo Stucket/ Câmara dos Deputados
Foto: Rodolfo Stucket/ Câmara dos Deputados

No fundo, o circo está armado — com direito a palco, luz e maquiagem, e meme de “chupar o microfone” pensando ser o canudo do seu SUPER COPO ROSA. Enquanto a plateia se distrai com a influência das bets, alguns aproveitam para não mostrar o rosto — pois é justamente nesse momento que estão sorrindo… e de terno. Brasil, não mostre sua cara!

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