Esses dias têm sido dias em que eu estou muito reflexiva. Não aconteceu nada de importante ou que tenha me causado essa sensação ou algo que, confortavelmente, explicasse o motivo de eu estar assim. Logo, não há motivo aparente, antes que você se ponha a pensar no porquê dessa minha pausa interna.
Acho que é só reflexo da idade mesmo, sintomas de um cronômetro que insiste em me lembrar que eu passei da metade inicial da vida e eu não tenho mais uma vida inteira pela frente, talvez somente a segunda metade dela, mais uma grande bagagem, que cresce com os anos, alguns quilos a mais e a certeza de que sempre haverá um novo amanhecer para a humanidade.
Mas o fato é que eu me solidarizo mais com as pessoas, sinto muito mais quando alguém não está bem, me dizendo ou não. Porém, meu leitor ou minha leitora fiel, eu jamais serei a pessoa que só percebe, com minhas infinitas reflexões, coisas negativas ou que me tragam a negatividade dos tempos.
LEIA TAMBÉM: Sobre encontros e desencontros do tempo
Essa mesma sensação de estar com os sentidos aguçados também aponta para coisas bastante inspiradoras, inusitadas, festivas e cheias de afeto. Essas observações me lembram que não importa o quanto o relógio tente me deixar incerta ou ansiosa pelo que vem por aí. Pelo contrário, é como se num ato de resistência e desaforo, dizendo para esse ser inanimado que conta o tempo com tanta velocidade que nem carrinhos de Fórmula 1 o vencem.
Um amigo de longa data, décadas eu diria, e essa é uma benesse do tempo, vem se comportando de uma forma diferente ultimamente. Ele sempre foi discreto demais, até muito fechado, difícil de lê-lo, mas, como o conheço bastante, sei que tem passado por algum trecho da vida que o colocou ainda mais dentro do calabouço de seus sentimentos, mas não há uma janela em que um raio de sol consiga burlar os cadeados para iluminar os seus pensamentos. Eu não sei se é grave, se é difícil, mas a certeza de que haverá uma solução habita com força o meu ser.
Nesses momentos parece tão difícil fazer alguma coisa para diminuir a dor de quem faz parte de nós. Pouco dá para fazer, mas dá para devotar respeito ao tempo, fazer orações para que o bem e o melhor cheguem até a pessoa e oferecer um café. Sempre ofereço um café, um bom abraço grandão e meu afeto. Quando estiver preparado, aceite!
Na outra ponta das minhas reflexões, estive no aniversário de um amigo querido, que sempre festeja coisas bacanas: a data que nasceu, uma amiga que mora longe e está passando pela cidade dele, conquistas dele e dos que ele ama.
Mas o que me chamou atenção, entre tantas figuras interessantes e cheias de histórias para contar, já que a média de idade por lá era de 50+, foi um sujeito dançando. Aí você vai me perguntar, mas Claudia, não é comum um sujeito dançar numa festa? Eu te direi: sim, é comum, mas ontem aquele cara me chamou a atenção e de um jeito muito bom, me fez sorrir.
Se ele estivesse andando pela rua, eu diria que é um cara comum. Um homem de cinquenta e poucos anos, vestindo uma camisa polo com listras largas, calça jeans meio solta na parte traseira e um cinto para mantê-la no lugar, um tênis com 50 tons de cinza, entre a cor e a poeira que se acumulou ali, um cabelo cortado ao estilo tiozão. Um corpo desenhado pelo tempo, com marcas, desalinhamentos e um jeitão de que passou por dores, mas resistiu. Nada de surpreendente.
Até uma música dos anos 80 começar a tocar e ele começar a dançar com energia e sozinho. Pulava, brincava, ria, como se por um milagre o tempo tivesse soprado uma bruma suave de jovialidade, despreocupação e muita vida naquele homem. Eu fiquei feliz como se fosse eu a aguentar saltar daquela forma, a dançar com tanto vigor e simplesmente se entregar àquele momento de estar feliz, tivesse assim uns minutos antes ou depois, isso não importava, o que importava era aquele recorte do tempo do agora. Ele se divertiu muito e aquele quadro está pendurado nas paredes da minha memória.
Acesse o nosso canal no Telegram
Acesse o nosso canal no WhatsApp
Veja você, uma banalidade para muitos, talvez a maioria das pessoas nem tenha percebido, mas eu vi, outras poucas pessoas também viram e aquele homem criou uma história dentro de cada um de nós. Ficou em mim uma sensação de ainda poder fazer coisas que o senso comum diz que não podemos fazer.
Tomara que o protagonista da segunda história, um completo desconhecido, possa jogar luz à história do protagonista da primeira história e que este possa dançar. Sem jeito, sem ritmo, com roupas de tiozão, mas com a mesma alma de menino que eu conheci há tantos anos, alma essa pronta para dar e receber amor.
Que sua semana seja assim, repleta de danças desengonçadas, mas que possam fazer alguém sorrir.
Beijo da Linda para vocês, até a próxima.










2 Comentários
Ah amiga Claudia, Sua história me atravessou. A cena daquele homem dançando feliz, sem culpa, na festa dos amigos, ficou comigo. Ele não dançava só com o corpo, dançava com a alma. E ali, naquele instante, ele era puro espírito AGELESS.
Continue a ler https://open.substack.com/pub/meucarpediem/p/uma-fresta-de-luz-revelando-o-olhar?utm_source=share&utm_medium=android&r=40j835
Somos ageless com muito orgulho. Beijão.