Ontem acordei decidida a fazer pela primeira vez um bolo de milho cremoso — e, no início, parecia que tudo daria super certo. O cheiro do bolo assando e o café quentinho me trouxeram a ilusão de que a coluna de hoje seria escrita em tom otimista. Mas bastou abrir os jornais para que a realidade viesse à tona: o aperto no peito diante de inocentes perdendo o direito à vida. Foi então que começou minha investigação — da Bíblia, que trata a vida como dom sagrado, até Marx, que a defende como direito coletivo. Spoiler: a resposta não foi um morango.
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Minha ideia inicial era falar sobre a importância de aproveitar pequenos momentos em meio a tantos acontecimentos históricos. Mas ao usar Gaza como exemplo, fui tomada por sentimentos amargos.
Não é possível que não estejam sentindo o mesmo, pensei, ao ler na BBC News Brasil: 100% da população de Gaza enfrenta insegurança alimentar, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da ONU.

Eu acreditava que fosse consenso: nenhuma criança deveria morrer de fome ou bombardeada. Isso não é uma questão de direita ou esquerda, conservadorismo ou liberalismo. É humanidade.
Entre relatório médicos e reflexões filosóficas, percebi
O psicólogo Steven Stosny cunhou o termo Headline Stress Disorder (transtorno de ansiedade por notícias) para explicar esse mal-estar causado pelo bombardeio informativo: ansiedade, estresse, crises existenciais.
Na tentativa de entender, fui folheando o DSM-5 sobre estresse pós-traumático. Depois, mergulhei em Aristóteles, que em Política alertava: quando seguimos só paixões e impulsos, sem reflexão, colocamos a verdade e a justiça em risco.
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Busquei respostas na medicina, na filosofia, na política. Só então percebi a hipocrisia: fazia exatamente o que dizia não fazer — me afogar em informações.
Informação sim, overdose não
O ser humano tem uma curiosidade mórbida por desastres. Mas não sei em que momento passou a ser normal assistir, diariamente, inocentes perderem suas casas, morrerem de fome ou sob escombros.
Enquanto uns justificam pela religião e outros pela política, a vida se perde.
Em Gênesis 9:6 lemos:
“Quem derramar sangue humano, pelo ser humano o seu sangue será derramado; porque à imagem de Deus o ser humano foi criado.”
E, em 1979, na ONU, Fidel Castro disse:
“Falo em nome das crianças que não têm sequer um pedaço de pão. Dos doentes que não têm remédio. Dos que tiveram negado o direito à vida e à dignidade humana.”
“Mas eu não posso fazer nada daqui”
É exatamente aí que mora a ignorância. Estar longe não significa estar impotente. Se informar é essencial, mas reduzir um país a tragédias é um erro.
A Palestina, por exemplo, tinha uma das maiores taxas de alfabetização do mundo árabe — mais de 96% entre maiores de 15 anos. Conhecer sua cultura, história e cotidiano também é um ato de resistência.
O conhecimento não mora só em Marx ou Olavo. Ele pode estar no filme sul-africano que escancara a fome, na novela turca que celebra o chá, na música japonesa sobre desastres naturais. Fazer algo, muitas vezes, é se permitir descobrir o inesperado.
No fim, a vida não é uma grande partida entre “Atlético Comunista” e “Direita Football Club”. Às vezes, a vida é sobre um bolo no forno e um café quentinho para aprender com culturas que parecem distantes.
Porque, no fim, essa grande partida é sobre formar seu próprio senso crítico e buscar a verdade para além dos olhos dos outros.
A vida não é um morango. Mas ainda assim, a gente morde. 🍓
Até semana que vem!

Nem a biologia, nem a matemática conseguem provar, com certeza, a doçura de um morango — assim como a filosofia ainda não respondeu por que alguns dias são doces e outros, azedos. Nesta coluna, vamos destrinchar o cotidiano tentando deixar o azedo menos difícil de engolir e o doce mais fácil de guardar na memória.
Este é o campo de morangos mais agridoce da internet. Pegue seu morango e entre! 🍓