Agosto é conhecido como o mês do desgosto, você concorda com isso?
Eu não sou uma pessoa que escreve fazendo perguntas e não tendo respostas para elas, talvez pela minha formação principal como jornalista ou porque vivo uma vida que não dá para não ter respostas, já que sou a rainha das perguntas. O fato é que quando eu faço uma pergunta, eu quero a resposta de verdade.
E minha pergunta sobre agosto é genuína…
Na minha infância, agosto era o mês do cachorro louco e agora é considerado (entre tantas outras coisas) o mês da Conscientização da Violência Contra a Mulher. É imperativo que falemos desse assunto, mas não de uma forma qualquer, mas de uma forma de verdade, com o coração.
A mulher é violentada em suas mais diversas faces, desde criança, quando ainda se ensinam aos garotos que eles devem pegar geral, mas meninas não, têm que se resguardar, mas se esquecem que esse garoto que pega geral pega outras garotas, que porventura podem ser as suas garotas. Mas, essa é uma piração muito minha…
E as nossas garotas sempre parecem carregar culpas, culpas das mais diversas, como se tivéssemos que pedir desculpas somente por existirmos como mulheres. E essa é uma condição de muitas épocas e lugares, no mundo inteiro.
Mas eu fiz toda essa introdução para contar o causo da GAROTA QUE NÃO SEI O NOME.
Fui fazer uma revisão na lataria, meus exames de checkup anual, por três dias seguidos, então tive tempo de observar, conversar e saber o desenrolar da história da tal garota. Encontrei essa jovem de 21 anos, morena clara, com cabelos escuros volumosos, brilhantes, e sobrancelhas pretas, muito bem cuidadas, um corpo lindo, bem dentro dos padrões de beleza, muito educada, prestativa e competente no seu serviço, porque me atendeu com muito zelo e sabendo o que dizia.
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Eu me senti um pouco pensativa e lógico que minha língua estava coçando para saber o que estava havendo, porque a garota tinha os olhos vermelhos e o rosto inchado, claramente que era de tanto chorar. Dentro de toda a minha curiosidade, criei mil possibilidades, mas meu veio jornalístico logo criou uma pergunta e eu deixei voar.
Perguntei para a jovem se ela estava bem, ela olhou para mim com cara de quem pede um socorro sem palavras. Antes mesmo que ela pudesse responder, chegou uma colega de trabalho, muito falante e perguntou se ela estava melhor, como se já me contasse, em uma cumplicidade gratuita, talvez porque carrego marcas de experiências no rosto, o que estava havendo. Ela disse para a colega: não fica assim, ele não merece.
Aí, minha curiosidade aumentou e eu já tomada de uma revolta feminina perguntei se ela podia me contar o que houve. Ela me disse que namorava um rapaz de 19 anos, dois anos mais novo que ela, que também era funcionário da mesma empresa, e que tinha pegado ele traindo ela com uma colega de trabalho de ambos, na hora do almoço, ali mesmo (e apontou para um jardim), sem a menor vergonha ou culpa.
A amiga tinha vindo ver como ela estava porque até a supervisora estava preocupada com ela, porque ela estava chorando há dois dias… Até aqui, ok, a garota estava abalada com a traição, se sentiu violentada como mulher etc. e tal, mas não era bem isso, era o que eu achava.
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Ela olhou para mim e me perguntou: O QUE EU TENHO DE ERRADO PARA MERECER ISSO? O QUE EU FIZ DE ERRADO?
Por um momento eu parei, olhei para ela e me lembrei de um período da minha vida que eu pensava exatamente isso: o que eu tenho de errado? Por que isso aconteceu comigo, assim, dessa forma? E conversando com muitas outras mulheres, descobri que esse peso social é comum entre nós. O outro faz coisas erradas, porque a traição não era parte da relação, mas nós ficamos com a culpa e achamos que nós que é que fomos insuficientes para garantir o sucesso da relação.
E não é só no amor, mas na família, no trabalho, nas amizades… Em tudo, a mulher acha que é dona da culpa; poucas vezes é dona do sucesso. Triste!
Então, conversei com a jovem, mostrei para ela que quem tinha quebrado o acordo de namoro tinha sido o garoto, mais novo e mais feio, segundo a colega de trabalho, e não ela, que continuava ali, no mesmo lugar, sendo a mesma pessoa.
No dia seguinte, encontrei a GAROTA QUE NÃO SEI O NOME no mesmo balcão, fazendo o mesmo trabalho, mas já era outra pessoa. Ela tinha um largo sorriso no rosto, me disse que tinha refletido muito sobre o que conversamos e que eu tinha razão, que o garoto tinha falhado, não ela. Ela ainda me disse que nunca mais iria namorar alguém que não a valorizasse, que nossa conversa tinha virado uma chave dentro dela.
Sobre o futuro? Quem sabe? Talvez naquele dia que tenha ajudado uma mulher a mudar o rumo da sua vida, talvez ela volte a fazer a mesma coisa de antes, talvez a amiga use os conselhos para ela mesma, mas o fato é que quando contamos nossa história, mostramos que é possível fazer diferente, que é possível mudar a história e construí-la mais justa.
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Sobre o agosto ser do desgosto? Discordo… Todos os dias, todos os meses, todos os anos, todas as rugas que nos marcam o rosto mostram que a cada experiência vivida cria-se uma nova oportunidade de experiência para ser trocada, ainda mais para uma professora curiosa de humanidade como eu.
Aproveite que amanhã começa um novo mês e quem sabe aconteça uma oportunidade de começar de novo de novo. Simplesmente, faça a sua parte.
Beijo da Linda, ótima semana. Que seu novo mês seja MARAVILHOSO.
2 Comentários
É isso, cada dia, é uma página em branco do livro da nossa vida e cabe a cada ser escrever as suas experiências, oportunidades, erros, acertos, reflexões…
Por muitos anos repliquei esta frase sobre agosto ser mês do desgosto. Hoje sendo AGELESS olho minha caminhada, meus aprendizados e assim como você disse a Moça que não sabe o nome, não é sobre você é sobre o outro. E assim prefiro ter minha própria opinião sobre agosto, existem tantas coisas lindas a contemplar e viver, sendo agosto ou fevereiro, o que importa que mês é? O importante é a intensidade com que vivemos cada um de nossos dias.