Eu gosto da percepção da passagem do tempo! Eu gosto de ver o tempo passar!
Assim inicio minha reflexão sobre o tempo, tempo, tempo, fazendo uma menção ‘velada’ ao poeta, mas não menos encorajadora.
Confira “Filhos do Silêncio” de Andrea dos Santos
Acordei às 05h05, exatamente assim. Eu acordo e olho o relógio, como é digital é fácil saber com exatidão que horas são. E eu amo registrar horas em sua plenitude, com todos os dígitos quebradinhos, porque não vivemos somente horas cheias. Eu aprendi isso há muitos anos, com uma pessoa que não faz parte da minha vida diretamente, mas estará sempre lá.
Como ontem estava muito calor, as janelas de casa dormiram abertas. Eu amo essas construções da língua portuguesa, que dão vida às coisas, porque logicamente janela não dorme, mas amo uma prosopopeia, então vivo construindo frases em que essa presepada seja usada.
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Mas voltando ao dia, quando acordei, estava um dia nublado (e ainda está), meio cinza, que eu não gosto muito. Tinha um ventinho fresco entrando pela casa, que me fez lembrar que ainda é inverno, mesmo o calor tendo dado o ar da graça para lembrar-nos que ele logo chegará.
Como é domingo, é dia de colocar a vida em ordem para preparar a semana, fazer minha coluna (que você gentilmente a lê nesse momento), de deixar o tempo correr mais lentamente e de fazer meus estudos semanais, e lógico que não estudo somente no domingo, mas no domingo tenho que entregar minhas atividades, todas online, graças a Deus.
Dessas atividades, hoje foi dia de entregar uma grande, com reflexões sobre genealogia, família, ancestralidade e desenho, coisa que não sou muito boa não, mas me arrisquei.
Na obviedade de uma amadora, quis retratar a minha família como uma árvore, mas não aquela genealógica que o povo conhece, a minha foi construída pelas mulheres que estão na minha ascendência, porém, não pude deixar de colocar os homens da descendência da minha mãe, os netos, além das mulheres, claro, as netas. E, perdida num pensamento solto, refleti: ahhhh, como minha mãe estaria feliz de tivesse conhecido a sua bisneta… Mas esse é outro caso, deixa para uma próxima…
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O fato é que minha família é constituída, na sua maioria, por mulheres, e não são quaisquer mulheres, elas são fortalezas, árvores frondosas, resistentes e resilientes. Eu só me dei conta dessa força já adulta, quando as primeiras barreiras de aceitação começaram a aparecer.
Mulheres como eu, minhas irmãs e as minhas ancestrais de fato causam incômodos, porque nunca somos conformadas com o status quo, não aceitamos que nenhuma relação tóxica permaneça, que injustiças sejam feitas e quando nos vemos diante de desafios, brigamos, nos reinventamos, começamos de novo e reconstruímos o que foi quebrado.
Minha vó, lá nos anos 1950, decidiu que só teria três filhos. Era pobre, sem grandes condições de criar os três que já tinha, e não estamos falando de uma época que tinha métodos de prevenção. Então, ela orava. Orava para que Deus fechasse a sua madre e ela não pudesse mais engravidar. Olha que deu certo. Nos anos 60, quando achou que as coisas poderiam melhorar, porque o marido havia recebido uma indenização por um tempo de serviço, ele pegou o dinheiro e fugiu com uma amante. Toca minha vó a orar de novo, e eu só consigo imaginar a imagem dela assim, orando. Deu tudo certo, meus tios mais velhos trabalharam, se criaram, assim com minha mãe, e aqui estamos. Ah, como em um clichê de novelas, meu avô voltou doente, sem um centavo, para morrer sob os cuidados e orações da minha avó. Ela resistiu!
Minha mãe, uma mulher preta, não retinta, misturada, com uma beleza festiva e alegre, cantava com força nos pulmões, cheia de sorrisos com dentes brancos e largos. Casou-se aos 18 anos, não tardou em ter a primeira filha, euzinha, quatro anos depois, minha irmã do meio, e mais seis anos, a mais nova. Quando essa última nasceu, veio o diagnóstico de insuficiência renal seguida de uma arritmia. No todo foram 33 anos de tratamentos, 2 transplantes e quase um terceiro por duas tentativas, uma não deu certo e a outra chegou dois dias depois da morte dela. Mas, mesmo diante de tantas dores, cortes e cicatrizes no corpo e no coração, minha mãe sorria. Ela resistiu e venceu. Venceu com força, dores e graça.
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Minhas irmãs e eu estamos resistindo, vencendo e criando as próximas gerações. Ninguém se perdeu do propósito da fé, da resiliência, da força e dos caminhos que aprendemos com NOSSAS ANCESTRAIS. Somos brutas, afetuosas, resignadas, sorridentes e guerreiras. Não é modo de dizer não, somos guerreiras de verdade. Não há batalha que nos amedronte, não temos tempo para ficar olhando para franquezas, lamentando cicatrizes que nunca sumirão, também não nos dobramos fácil e, se dobrarmos, levantaremos pela manhã, porque a força e a fé fazem isso conosco. Seguimos firmes e fortes, eu com meu filho, minha irmã do meio com duas filhas e um filho, agora já tem até neta, e a mais nova mãe de uma menina e um menino.
E o mais bonito de tudo isso é ver que somos galhos muito diferentes dessa árvore frondosa, mas dentro de nossas diferenças, somos exatamente iguais.
Te convido a pensar em como é a sua árvore, quais são as raízes, quem é o tronco, como os galhos crescem… Eu desejo que você possa refletir sobre as suas origens, que pense em como seu legado vai ramificar e SEJA FELIZ hoje.
Beijo da Linda para vocês, ótima semana.
Um comentário
“Inspirada por uma provocação da amiga Cláudia sobre a árvore das mulheres fortes, mergulhei em minhas memórias e busquei minhas ancestrais, mulheres que costuraram, bordaram e criaram com as mãos e com o coração. Entre fios, retalhos e sabedoria ancestral, a arte se tornou resistência, magia e legado. Deixo aqui um texto profundo e cheio de afeto que celebra a força feminina em cada ponto de crochê.” (https://open.substack.com/pub/meucarpediem/p/somos-bruxas-artesas?r=40j835&utm_campaign=post&utm_medium=web&showWelcomeOnShare=true)